sábado, 13 de novembro de 2010

ANGÉLICA TORRES LIMA

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Ourivesaria da lágrima

A poeta chorou e foram letras
que besuntaram de ardência
os olhos dela. Palavras brotaram
do alfabeto lacrimal em suas maçãs

e ela as colheu:
era um poema
e queimava
em sua mão!

A poeta correu então à janela
e lançou o texto sobre a folha
do buriti milenar, onde um raio
de lua crescente dormia.

Viu luar e poesia
juntos se anelarem,
momentânea jóia
de ouriverso.

Deixou-os lá,
quietos.
Por bem,
saiu de perto.

Só quis mesmo a poeta
salvar escrituras
do incêndio
em seu silêncio deserto.


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