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continuação...
Folha do Norte
Os colegas riram de Cheiro Verde até a chegada do Dr. Pedro Nobre com o comandante do navio americano. Trancaram-se na sala e, depois de quase uma hora de conversa, chamaram seu Juvenal, em seguida Cheiro Verde. Foi sua grande oportunidade. Mudaram a manchete, acrescentaram os últimos fatos, mas não quiseram mencionar o americano. Seu Juvenal, na saída da sala, pediu tempo integral no Ver-o-Peso; entrevistas e, se houvesse fato novo, chamasse o fotógrafo.
Para a alegria de Cheiro Verde, a matéria saiu com seu nome, mas titulada com “ VISAGEM FAZ MAIS VÍTIMAS NA BAÍA DE GUAJARÁ”. Passou a noite esperando a impressão, pensando que dali pra frente seu Juvenal iria tratá-lo melhor, falar olhando pra ele, com respeito.
Saiu pela manhã com o jornal debaixo do braço, direto para o Ver-o-Peso, onde mostrava pra todos os conhecidos, empavonado. Agora era um dos principais jornalistas da Folha do Norte, dizia.
Exibindo sempre o jornal debaixo do braço, foi atrás dos últimos acontecimentos. Conversou com uma dezena de pessoas que os presenciaram, tentando descobrir algum detalhe que tinha escapado.
Parou no garapeiro e leu um pedaço da sua matéria pra ele:
“Um corpo chegava ao necrotério, quando o grito de mulher fez todos correrem numa confusão de empurrões e tropeços. No Ver-o-Peso, a moça achou o afogado entre os igarités. Assustada, gritando e chorando foi socorrida pela mãe, a conhecida Tia Merença e pelo garapeiro Jonas.
Agora são duas as vítimas da visagem que muitos não acreditam existir. Os soldados da brigada, de prontidão no local, pediram ajuda aos bombeiros para conter a multidão de curiosos.”
Quando terminou de ler, o sorriso de Jonas foi até as orelhas, Cheiro Verde pensou que Ducina tinha razão quando perguntava nomes ao ajudá-lo com as matérias.
Terminava de tomar a segunda cuia de tacacá quando soube da Vila do Pinheiro. Queria ir lá, mas primeiro ia confirmar se não era boato; naqueles dias nada do que se ouvisse na rua podia ser acreditado sem uma confirmação. Resolveu passar na redação antes.
- Mas é um pedido do bispo, dizia seu Juvenal para Dr. Pedro Nobre, que não cansava de olhar as horas no relógio de bolso.
- Não podemos deixar de publicar o assunto, os outros jornais estão dando cobertura completa. O povo na rua, é só no que fala, não podemos abrandar. O fato é grave, tem mortes e pelo número de gente que viu, ou de alguma forma teve contato com a tal visagem, vai ser difícil parar... imagine ficar de fora. São quatro mortes e uma mulher atacada.
- Quatro? Onde foram as outras? Perguntou seu Juvenal, sentando no canto da sala.
- Uma moça e um pai de santo, lá na Vila do Pinheiro. Soubemos há pouco, mas não temos confirmação, respondeu Cheiro Verde, entrando na sala.
- Além do mais, não acredito que isso dure até depois de amanhã. Falam que estão se organizando pra vigiar a baía pelo menos durante o Círio. Melhor manter o assunto na primeira página. Mande confirmar a morte da moça e do pai de santo.
Moça morta e um pai de santo na Vila do Pinheiro. Cheiro Verde queria ir lá, mas seu Juvenal pediu que ficasse de plantão na porta do necrotério; ia mandar outro. Já que ninguém confirmava as mortes, se de fato tivessem acontecido, os corpos chegariam a qualquer momento, melhor ele estar no necrotério.
Saiu pensando passar primeiro na pensão da Florete para ver Ducina e mostrar a primeira página do jornal, mas viu Ranulfo da Província indo com as mãos no bolso como se tivesse fazendo um passeio por ali. Ia direto no rumo do Ver-o-Peso. Cheiro Verde o seguiu até encontrá-lo conversando com tia Merença e Filó.
continua...
MQ
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009
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