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irmã
para irmã nely de souza capuzzo
pari tantos da minha virgindade
criei os possíveis
amamentei com minhas mãos
os mais fracos
filhos de tanta ausência
embriagada, todas as noites
de compaixão,
vaguei por ruas
recolhendo as crias
que punham no meu ventre
por entre meus seios secos
ouvi gemidos de gozo
lágrimas, gritando nas sarjetas
que a escuridão tirava dos olhos
escorrendo em farrapos
fui mãe e pai, obstinada vi vingar
excluídos, nascidos
onde não deveriam nascer
minha aliança de virgem
sangrou todos os dias
quando o pedreiro lacrou,
na campa, minhas roupas de pó,
virei vento e soprei
os galhos em volta
nua, virgem
mãe, filha e irmã
da miséria que também
me gerou
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MQ
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quarta-feira, 14 de outubro de 2009
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Amigo Quinan, li esse poema hoje e fiquei encantada! Mas coloquei o comentário no outro post.
ResponderExcluirDe qualquer forma, aquela é uma imagem muito bonita. Mas essas suas palavras são fortes e de grande beleza!!
Carinho!
Jac.
ResponderExcluirNely era freira, minha irmã, e fez na época em que ainda não era muito comum isso, um trabalho de assistência social utilizando a educação como valor principal. Sua obra existe até hoje em Porto Alegra, chama-se Pequena Casa da Criança e tem mais de 60 anos.
Te abraço.