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continuação...
Terraço do Grande Hotel
Quando Dr. Artur chegou, Pedro Nobre acendia a cigarrilha, sentado na última mesa. A convivência deles nunca tinha sido boa, mas ao receber o recado, Dr. Artur tinha certeza de que o assunto era do interesse dos dois. Achava estranho terem sido convocados para uma reunião com o intendente, adiada repentinamente.
Cumprimentaram-se com cortesia, e Pedro Nobre começou a contar que o informante que manteria em sigilo, estava participando como membro do governo que era, de um engodo cujo objetivo era acabar com os tumultos e a insegurança daqueles dias. A capitania iria simular a morte da tal visagem por uma das patrulhas que mantinha em vigília na baía. Iriam anunciar ainda naquele dia com tempo para as manchetes. Essa era a razão do adiamento da reunião com o intendente. Desde o começo vinha sofrendo pressões. O comandante americano que se dispôs a dar uma entrevista, resolveu não fazê-lo, inesperadamente. Dr. Cavalcante já o procurara pedindo que a Folha fosse mais discreta; acreditava que essa história toda não passava de crendice, mas era obrigação da imprensa manter a população informada, afinal, eles viviam de vender jornais. Que as autoridades apurassem as mortes com rigor e provassem ser misticismo a tal da visagem. Repudiava veementemente aquela forma de tentar manipular os acontecimentos e as notícias. Por esta razão tinha pedido o encontro. Nesta hora, cabia a eles mesmos, concorrentes, unirem-se contra aquele atentado à verdade.
Dr. Artur respondeu com agradecimentos a consideração, reafirmando serem concorrentes, mas não inimigos. Sabia da solidariedade da Folha em episódios passados de muita violência, dos quais foi vítima, e concordava plenamente com suas colocações. Sabia que alguma coisa estava errada naquela história toda, tinha sido procurado também pelo Dr. Cavalcante que havia lhe pedido o mesmo. Seu amigo e poeta Camargo Neto, que chegou no navio americano, ouviu um burburinho a bordo quando entraram na baía, mas não se interessou, percebendo somente a inquietação do comandante. De sua parte, concordava em não pactuar com o engodo articulado pelas autoridades. Propunha que se juntassem sem provocações, mantendo a dignidade da imprensa paraense.
continua...
MQ
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terça-feira, 13 de outubro de 2009
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