domingo, 11 de outubro de 2009

SERTÃO D'ÁGUA - ESTADO DO PARÁ

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continuação...




Estado do Pará





Na primeira página:

VISAGEM ATACA NOVAMENTE

“As últimas informações, que nos chegam sobre o caso do ser demoníaco que assusta quem chega à cidade pela Baía de Guajará, dão conta da preocupação das autoridades com o tumulto que se forma no Ver-o-Peso e Porto do Sal, principais áreas de desembarque para os barcos que chegam do interior. Também nas ilhas continua o clima de insegurança. Desta vez, foi atacada, numa praia na ilha de Cotijuba, a senhora casada com o pescador Idelmar dos Anjos. A visagem teria tido um intercurso carnal com a senhora que, distraída, andava pela praia quando foi atacada por esse ser demoníaco que atormenta agora, não só os navegantes na madrugada, mas à luz do dia ataca os ribeirinhos de nossas ilhas. Depois de aparecer morto em sua embarcação no Porto do Sal, o carregador Raimundo de Souza, velado na residência dos familiares da esposa, no Reduto, foi enterrado esta manhã. O outro cadáver, até agora não identificado, que apareceu boiando no Ver-o-Peso continua no necrotério aguardando identificação, enquanto o boato sobre a moça e o pai de santo encontrados com as cabeças decepadas na Vila do Pinheiro, aguarda confirmação das autoridades. Pelo visto, as famílias da moça e do pai de santo já enterraram os corpos numa cerimônia de umbanda, sem notificar a polícia.


Cresce o número de pessoas que viram o ente navegando em sua canoa de luzes. Agora é um caso para as autoridades que estão tomando todas as providências na investigação. A brigada já destacou uma guarnição comandada pelo Tenente Alvino de Albuquerque para ficar de prontidão no Ver-o-Peso. No Porto do Sal, comandada pelo tenente Flores Neto, outra guarnição acompanha os acontecimentos.

Duas alvarengas fazem o patrulhamento da baía de Guajará com homens fortemente armados.
As autoridades e o bispado pedem ao povo que mantenham a calma e façam suas orações e não deixem que o misticismo tome conta de seus corações. ”

Entrou muito irritado o jornalista Tibúrcio Maia com o jornal debaixo do braço. Chamou todos da redação e determinou que não se publicasse nenhuma linha mais daquele caso. O assunto estava proibido por ordem superior. O partido não ia se indispor com a igreja e com as alianças políticas. Bem que ele tinha sido contra desde o começo, se o tivessem ouvido, não teria passado o vexame de ser chamado e levado aquela descompostura. Daquele momento em diante nada deveria ser publicado sem que ele mesmo autorizasse.


João Merino, no canto da sala, calado, esperou o colega falar tudo que queria, todos voltarem às obrigações, sentou e calmamente começou a argumentar que não podiam ficar de fora de um assunto daqueles, que se diminuísse o destaque mas, não publicar nada enquanto os outros jornais o faziam era não respeitar os leitores. Foi interrompido por Tibúrcio Maia com um tapa na mesa e um ponha-se fora daqui, ouvido até fora da sala. Num segundo estavam atracados em briga corporal, tapas empurrões e pontapés, provocando o maior tumulto no jornal e atraindo até quem passava na porta.

Entre os transeuntes, estava Cheiro Verde que parou e pôde se inteirar do que acontecia ali.

continua...


MQ

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