sexta-feira, 16 de outubro de 2009

SERTÃO D'ÁGUA - A PROVÍNCIA DO PARÁ

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continuação...


A Província do Pará



A redação estava às moscas, parecia ter morrido alguém de tão quieto.

Melhor seria enfrentar todos - pensava Ranulfo, que passara a noite trabalhando. Tinha tudo preparado com esperança de que Dr. Artur voltasse atrás. De uma atitude corajosa do jornal, enfrentando: governo, bispado e os medíocres. Imagine, abafar tudo que estava acontecendo na cidade! A Vila do Pinheiro quase abandonada, as estações cheias de gente fugindo... nos portos, o medo instalado em todos. Uma situação séria daquelas, e ele com todo o material recolhido para a reportagem, quase setenta e duas horas sem dormir, sem a mulher, sem poder se engraçar direito com Filó...

Quanto mais pensava, menos via lógica na decisão do Dr. Artur em aceitar aquela imposição. Ele sempre estivera ao lado da verdade, sempre concordara que só os mais privilegiados liam o jornal, mas a informação acabava chegando ao povo. Quantas vezes lutaram juntos contra o governo... quantas vezes ameaçaram empastelar a Província... Eles sempre tiveram a coragem de enfrentar assuntos até mais complicados, envolvendo política, as famílias, mortes e inimizades que duravam até hoje. Alguma coisa estava errada naquela decisão. Será que o patrão estava escondendo alguma coisa, um acordo político, talvez?

Por que se calar com a informação absurda de terem matado a visagem, como? Ordens de nem investigar, e pior ainda: não publicar nada sobre o assunto.

Vira o irmão do bispo conversando com ele no terraço do Grande Hotel, seria isso? Perguntava-se sozinho nos seus pensamentos. E as pessoas entrevistadas por ele, quando lessem o jornal com os poemas de dona Noemi na primeira página, louvando Nossa Senhora de Nazaré? Onde iria parar seu prestígio de jornalista aguerrido, sem temor, que construiu dia a dia por aqueles anos todos?

Dr. Artur sequer falou com ele. Quando chegou da rua soube, já tinha saído. Haviam conversado sobre a tentativa do bispo e das autoridades de abafar as notícias e chegaram a concordar que, mesmo não publicando nada como pedido, as notícias circulariam de boca a boca. Iria ser pior.

Estava cansado para ir procurar a mulher no Marco da Légua, cansado para Filó e cansado demais para ir embora. A sonolência tomou conta, no sofá dormiu a manhã toda, a tarde toda, até o começo da noite.

Foi acordado pelo Seu Breu, com o semblante assustado pelo barulho de tiros e muita gritaria vindos dos lados do Ver-o-Peso.

- Seu Ranulfo, seu Ranulfo, tem uma moça chamada Filó querendo falar com o senhor, urgente!

continua...

MQ
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