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continuação...
Terraço do Grande Hotel
No terraço do Grande Hotel, o movimento era grande. Na mesa do Dr. Cavalcante, o mesmo assunto: o preço da borracha aviltado, o cacau, as dificuldades daquele momento com a política, o movimento grande de pessoas para o Círio e a tal da visagem.
Com a chegada do jornalista José Torres, relatando as últimas notícias, o assunto da visagem predominou. A conversa foi longa sobre quem viu, quem não viu, sobre as pessoas mortas e o movimento de gente no comércio, no Ver-o-Peso e nas estações. Dr. Cavalcante ouviu sorrindo o jornalista e prometeu atender seu pedido de intervenção junto ao bispo - que estava furioso com o principal assunto da cidade naquela véspera de Círio. Já havia enviado pelo cônego Gaudêncio pedido ao seu jornal para que não desse tanta importância aqueles boatos. O bispo estava mobilizando todos, queria tratamento de polícia para o caso, e o cônego a seu mando estava indo de jornal em jornal, fazendo reclamações e ponderações para que o assunto não fosse levado a sério pela imprensa. Até no Teatro Ideal ele foi, por causa do título da peça que seria levada. Dizia o jornalista José Torres.
Dr. Cavalcante assumiu compromisso e mandou na hora mensageiro solicitar ao bispo que o recebesse.
O mensageiro voltou no final da manhã com a resposta, o bispo o receberia naquela mesma tarde.
Dr. Cavalcante era um dos homens mais ricos e influentes, dono de casa aviadora, banqueiro, comerciante, jurista respeitado, além de devoto fervoroso de Nossa Senhora de Nazaré. Amigo de políticos, autoridades e irmão de Dom Francisco, que o recebeu sorrindo e foi ficando sério ao ouvir o irmão pedir pra deixar os jornais com aquelas sandices todas, pelo menos até o dia do Círio. Aquilo estava movimentando o comércio. Pedia ao bispo que todas as paróquias celebrassem missas em intenção da alma daquele infeliz ser que vagava pela baía e assim, em vez de desagregar o povo na quadra nazarena, trá-lo-ia mais pra perto dos festejos.
O povo - dizia Dr. Cavalcante - acredita que o carregador morto, o rapaz afogado e a mulher atacada foram vítimas da visagem. Deixa acreditar! Nunca vimos tanto movimento nas ruas. Meu irmão sabe que, quando o comércio vai bem, a igreja também vai. O povo está assustado e é nessa hora que precisa ter mais fervor em Nossa Senhora de Nazaré.
O semblante de Dom Francisco foi se desanuviando, quase convencido pela empatia do irmão que despediu-se, aguardando a reflexão do bispo sobre seu pedido e prometendo ficar aquele assunto nos jornais somente até a véspera do Círio e ir acompanhando a família na Procissão da Transladação.
continua...
MQ
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terça-feira, 6 de outubro de 2009
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