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continuação...
Teatro Ideal
O TEATRO IDEAL APRESENTA: JÚLIO VILLAR
NO MONÓLOGO “ O ENTERRADO VIVO”.
Seu Alfeu era só alegria, primeiro pela reforma do teatro para a temporada do Círio, depois pelo programa que iriam apresentar. Mandou fazer dezenas de cartazes e espalhou pelos logradouros e casas comerciais. Aproveitava a agitação da cidade com o Círio e aquele componente adicional, que era só no que se falava desde o dia anterior, um ser assombrando a baía de Guajará. Antevia seu Alfeu muito dinheiro entrando na bilheteria. A abertura do teatro iria ser um sucesso.
Procurou o artista no hotel, propondo uma temporada maior devido aos fatos. Deixariam para anunciar nos últimos dias, em cena aberta, economizando assim com novos cartazes. Júlio Villar prontamente aquiesceu, fazendo apenas uma exigência de ganho um pouco maior do que o contratado.
Naquela mesma manhã, perto do almoço, Júlio Villar foi procurado pelo cônego Gaudêncio, a mando do bispo, pedindo o cancelamento da apresentação daquele monólogo anunciado nos cartazes, uma vez que não ficava bem aquela peça ser levada no clima de agitação que vivia a cidade, às vésperas do Círio de Nazaré, com a tal da visagem do Guajará. Que o artista escolhesse outra peça em seu repertório, por todos sabido, um dos melhores que o público paraense iria ver.
O recado do artista chegou ao teatro. Seu Alfeu acabava de se despedir de Ranulfo que viera lhe informar as últimas notícias que sairiam em manchete no jornal. Ranulfo da porta ouviu o recado, e preveniu o amigo que poderia ser o bispado tentando cancelar a apresentação daquela peça. A pressão que eles estavam fazendo era muito grande. Com essa história da visagem, eles temem que atrapalhe as festividades deste ano.
Seu Alfeu apanhou o paletó e saiu às pressas da sala e das vistas do mensageiro que subornou para não tê-lo encontrado.
Ninguém sabia de onde o boato saiu, mas corria de boca em boca que “ O Enterrado Vivo” não seria mais apresentado naquela temporada. Seria substituído por outra peça do repertório do artista. Na bilheteria do teatro, não se confirmava nem se desmentia. Seu Alfeu, ninguém encontrava.
No hotel, Júlio Villar não queria falar com ninguém, antes de se avistar com a direção do teatro. Até a entrevista ao jornal pedira pra cancelar, com medo de que o repórter perguntasse qualquer coisa sobre a mudança de repertório.
Nas imediações do Teatro Ideal, fazia-se chacota sobre a estréia marcada para o dia seguinte quando chegou a notícia do rapaz encontrado no Ver-o-Peso e da mulher atacada na ilha de Cotijuba. Cada um que contava tinha sua versão. Para uns, o rapaz fora jogado do navio americano e o capitão já estava no necrotério para reconhecer o cadáver. Para outros, era tudo invenção do dono do teatro para encher a casa. A mulher atacada, era alguma assanhada do navio americano, tomando banho e que se assustou com algum pescador. Os boatos foram se espalhando pelo arraial, nas proximidades do teatro, desencadeando uma curiosidade nunca vista, nem mesmo no primeiro filme do Olímpia ou no Teatro da Paz, em apresentação de grandes companhias. Todos queriam adquirir seus ingressos antecipadamente.
No Teatro a grande confusão. Seu Alfeu não aparecia, a bilheteira não sabia o que fazer com aquele tumulto; os lugares todos vendidos, o povo na porta, exigia outra sessão.
A noite apenas começava no arraial, fervilhando de gente. O assunto de todos era a visagem e o monólogo do artista português. Ouvindo, o povo se aglomerava. Cada um que começava a contar que viera do Ver-o-Peso, ajuntava uma pequena multidão ao redor.
continua...
MQ
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sábado, 3 de outubro de 2009
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