segunda-feira, 7 de setembro de 2009

ALINE DE MELLO BRANDÃO

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PORUPI



Xe porupi xeraygra querí:

Ao longo de mim dorme meu filho
O que perdera antes de nascer
Tenro tesouro guardado no ventre
Esvaído em sangue e dor, pequeno ser.
Sem gemer, escoou-se das entranhas
Mágoa estranha esta- uma, feita em dor.
A fervura febril...pupureçaba
Poruám porupi tatá potaba
Desgarrou-se do útero, o tear
Onde a vida tecedeira fende o parto.

Meu menino perdido, eu já não sei
Ay keririm kytincoca anga
Coema eyme vê poama
Os porquês, os por onde e interrogo
Mil e muitos milhares de caminhos.

Nada sei, continuo a não ser nada
Se tua vida escoou-se na enxurrada.
Penso e quero pensar, preciso, às vezes,
Que o varão que engendrei um dia e foi-se,
Retornou-me através de outra prenhez:
De uma filha , a mais velha e mais primeira
Vindo em Victor, avay, o que é meu neto,
Revivendo, aangaba ypyrungaba!



Do Tupi- Guarani

Porupi : Ao longo de alguém
Ay: o primeiro leite das fêmeas, água que escorre dos frutos.
Avay: o rio do homem.
Aangaba: o sinal.
Ypyrungaba: o princípio, o início de alguma coisa.
Coema eyme vê poama: madrugar, despertar muito cedo.
Keririm: calar a tristeza.
Kytincoca anga: purificar a alma.
Poruam: o umbigo.
Tatá potaba: isca de ferir.
Pupureçaba: fervura.

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