sexta-feira, 25 de setembro de 2009

CRISTINA FARAON

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O amor é uma criança em todos os sentidos.

O amor é todo intuição, curiosidade e aprendizado. O amor erra demais, nossa! Mas sorri logo depois e aprende com uma facilidade incrível. Ele não nasceu pra morrer mas para crescer porque assim são as crianças.

Quantos anos tem o seu amor? 1 aninho? 12? 35? 40? Não importa, ele é uma criança e ainda não sabe nada de nada. Está só começando. É tolo como ele só, pode ter certeza disso. Quer coisas impossíveis, chora por besteira, ri de coisas que ninguém ri e vê o mesmo filme mil vezes sem cansar.

A coisa mais triste do mundo é quando ele está doente e vai perdendo peso, perdendo peso... Que dor! Parte o coração. Um amor que fenesce e morre é como qualquer criança que adoece, agoniza fenesce e morre. Igualzinho igualzinho.

Todo amor por mais que dure, morre sempre cheio de promessas e esperanças. Nenhum amor dura o suficiente tanto quanto nenhuma criança vive o suficiente.

Uma criança transmudará ao longo de sua existência, criará novas manias, fará novas perguntas, afeiçoar-se-á a novos brinquedos, criará travessuras impensáveis, ficará doente, irremediavelmente doente e depois renascerá das cinzas porque as crianças são assim mesmo. O amor engolirá chaves, deixará todo mundo louco mas depois sorrirá candidamente e voltará a correr no jardim. Não importa o que aconteça, o amor se recuperará porque está escrito que crianças estão destinadas à vida.


Ah, não nasceram para morrer! Mas é certo que morrem...

Estranhamente morrem, a despeito do que está determinado. A despeito da lisura irepreensível de suas peles, da maciez de seus cabelos, da inabalável disposição que têm para pular, correr e perdoar. A despeito disso tudo, muito estranhamente de vez em quando uma luz se apaga nesse mundo de meu Deus.

Por algum mistério muito misterioso alguns amores nascem doentinhos, inviáveis, já quebrantados. São velados desde o nascimento por amantes em suspense e familiares atentos. Coração na mão, suspense, terço na mão, noites sobressaltadas, lágrimas furtivas.

Centenas e centenas de crianças dormem febris entre sopros agourentos da noite, entre avisos de folhas secas que insistem em entrar pela janela a perturbar seus leitos de pedra.

Algumas até duram. Não podem correr, não podem pular, não podem ser expostas a nenhum tipo de provação. Qualquer travessura seria o fim, qualquer vento encanado, água gelada, piso escorregadio, susto ou fruta passada. A gente olha e sabe... e entre mimos e dores tentamos de tudo.


Afirmo com grande dor que a coisa mais triste do mundo é enterrar uma criança. Uma criança morta não é só uma pessoa morta. Uma criança morta são sonhos decepados, promessas esfaqueadas. E o futuro que virou miragem.

Um velho amor morto é ... Não há "velho amor morto". Um amor morto é uma criança morta com mil coisas por viver e fazer, novas historias ainda pra contar, desenhos ainda não desenhados pra mostrar, muros para pular, canções para aprender.

Não existe amor velho assim como não existe criança velha. Tudo o que existe é criança doentinha, sem defesas, com pulmões fracos e pais atônitos que não sabiam direito o que fazer e então perderam a luta.

...Então ela se foi. E não importa o trabalho que essa criança deu: sua partida vai doer para sempre e eles só conseguirão lembrar dos bons momentos, do seu sorriso e daquele corpo quentinho quando ainda havia vida.


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Cristina Faraon - http://cadeaminhavida.blogspot.com/
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