continuação...
Folha do Norte
Na Folha do Norte, o repórter tentava convencer o editor que a matéria era boa. Dizia ter visto gente da Província entrevistando o ribeirinho que chegou mais perto da visagem. Contava também já tê-lo entrevistado, compensava até um fotógrafo bater uma chapa, dava primeira página, era certo que dava.
Seu Juvenal pigarreava sem tirar os olhos dos papéis que lia e respondia sem nem olhar Cheiro Verde:
- Tu achas que podemos, nas vésperas do Círio, perder tempo com uma notícia dessas? Se oriente, corre atrás de alguma coisa de proveito.
Cheiro Verde andava pela redação mostrando pra todos a matéria já pronta, com o título “ VISAGEM ATORMENTA OS FIÉIS”. No artigo descrevia três aparições, entrevistava Manel do Coroa de Prata, o Papo de Anjo do vapor Guarani e o Nereu da freteira Confiança. Para Cheiro Verde era a melhor reportagem que tinha feito na vida, melhor chamada que as do famoso Ranulfo da Província, com ela esperava reconhecimento, promoção.
Era do jornal todo o mais dedicado nos afazeres, com seu terno surrado de brim, o chapéu de palhinha sempre levado nas mãos; não sabia o porquê do tratamento que sempre lhe dava seu Juvenal. Nos anos, nunca o tratava bem, era sempre com aquele desdém como se também ele não tivesse origem humilde. Não se importava com o apelido colocado pelos colegas, ficava - isso sim- orgulhoso. Tinha sido sua melhor matéria para o jornal, a fuga de Cheiro Verde, decisiva para a polícia encontrar o bandido; foi só ler o que escreveu sobre a família dele para prendê-lo no Marco da Légua, onde estava escondido. Todos o elogiaram no jornal, menos seu Juvenal que, daquele dia em diante, só lhe dava coisas sem importância para fazer.
Continua...
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