terça-feira, 29 de setembro de 2009

SERTÃO D'ÁGUA - ILHA DE COTIJUBA

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continuação...



Ilha de Cotijuba



Nazaré, encostada no barranco, na cabeça da praia, deixava tudo que Antônio queria, fazia tudo que ele pedia, menos atrás, dizia, porque dói... dói... dói... Dali ela controlava a chegada de Idelmar. Dos cinco filhos que tinha, bem uns três o marido nem desconfiava que eram de Antônio, seu compadre.

No devaneio da hora, depois de gozos e gemidos, Nazaré abriu os olhos e viu como se já avançando pela areia aquela visão assustadora, tremendo o corpo, contorcendo e espumando pela boca, os olhos estatelados, esforçando um grito.

Nazaré quedou com o amante, ainda dentro de si, fez um ruído estranho como fosse um grito e desmaiou. Antônio se virou, pensando ser o compadre, mas quando viu a visagem, saiu correndo, puxando as calças, nem se lembrando de Nazaré. Aturdido, chegou no embarcadouro falando da visão.

Logo a praia estava cheia de gente, e o que encontraram, foi só a mulher desmaiada e seminua. – Foi boto que tumô ela, axi! - dizia um. – Tu viu, Antônio? perguntava outro.

Antônio respondia ter visto uma visagem que não tinha nada com boto: ela era enorme, vinha dentro duma montaria que bubuiava até na areia da praia. Tinha um manto cobrindo e uma cruz atravessada no peito, urrava e espumava a boca assim... assim... assim...
A notícia se espalhou pela ilha toda:

- Nessa hora do dia, quem tumou ela foi argum bicho do mato, vivinho... vivinho... vivinho..., dizia o ajudante, calafetando o barco do seu Pereira.

- Tu não vê mesmo, Batela, parece o Idelmar. A mana s’tava era reinando com o cumpadre dela, opinou o calafate.

Novo ajuntamento de gente no trapiche, com a chegada do gaiola Esperança. A notícia da visagem assombrando na baía, salvou a reputação de Nazaré antes do marido chegar.

No jirau, espalhando o pescado tirado da camboa, Nazaré rezava no medo do marido descobrir tudo, quando vieram contar, para seu alivio, as notícias da visagem que aparecia até em Belém. Nazaré passou o resto do dia salgando peixe, calada em seus querer.

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continua...

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MQ
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