quarta-feira, 8 de abril de 2009

MAX MARTINS

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MAX MARTINS
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“Diariamente, eu pego meu papel, o lápis e uma prancheta, e me embalo na rede”. Este embalo tem uma função no seu processo de criação?Nós costumamos empregar a palavra embalo para designar dança. A poesia, como a dança, tem um ritmo. Nascido, porém, da respiração do poeta. Não é um ritmo melódico, nem rimado, embora um poema possa casualmente ter rima. Infelizmente, o meu pulmão está intoxicado pelo cigarro, mas o cigarro é muito importante para mim. Tenho a impressão que, pelo andar da minha vida, morrerei fumando. Fumar, hoje em dia, sofre repressão por uma mania de saúde que obriga as pessoas a serem belas, fortes e ter bons pulmões. Não aceito esta repressão e me enraiveço com as pessoas que me tolhem, inclusive na minha própria família. Acho antipático este policiamento. Por que não reclamam dos carros em cima das calçadas? Das calçadas esburacadas? Do cocô de cachorro em cima das calçadas? Há muita coisa contra o que reclamar. Mas só se reclama do cigarro. Isto nasceu de uma mania de americano zeloso, preocupado em comer suas vitaminas. Por isto, por raiva, acho que morrerei fumando."
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"Mas o embalo da rede fornece um ritmo?Ah, sim. O embalo dá o ritmo que já está dentro do meu pulmão, na minha respiração e na minha aspiração – um ritmo docemente ondulatório.Ainda com relação a seu método de criação, você disse que “poderia começar a escrever um poema com uma idéia ou com uma frase escrita a esmo, que depois seria trabalhada e reconvidada a entrar no salão do poema, eu poderia começar com uma frase escolhida num texto qualquer, ou, ainda, com uma outra frase poética”. Você tem várias possibilidades como ponto de partida?No poema cabe tudo, qualquer palavra, signo, idéia. O poema pode ter alguma idéia e pode não ter. O ritmo se faz ao acaso. Vagamente. Imposto pelo meu respirar. Se eu já respiro pouco porque meu pulmão está ressentido, meu poema será capenga em seu pulmão, se podemos dizer assim. No poema cabe qualquer palavra contanto que tenha este ritmo natural. No final, ela vai se encaixando. Mas pode ser que as palavras não sejam entendidas imediatamente. As palavras podem ser sombrias, pedem sombras, adoram sombras porque escondem outras palavras. As coisas, aliás, existem escondidas nas outras coisas. Este é um mistério que nos atrai, esteticamente. Por esta razão digo que escrevo pelo meu bem, pela minha auto-satisfação. O que move tudo é o desejo. Não só amoroso, embora, no final, tudo redunde, recaia no desejo amoroso. Afinal, o amor é o principal da vida. E o poema busca nos ouvintes o caminho do amor. Amor que, neste caso, é doação. O poeta é um doador. Pode ser que a doação do poeta não ocorra no momento em que for lido pela primeira vez. Mas ainda que se passem cem anos surgirá o momento da identidade entre a poesia e a vida."
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Max Martins
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