quinta-feira, 28 de maio de 2009

O POVO DO BELO MONTE XXII - Poemas – Deixados pelo pintor para Anabel.

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***

Cada gesto
Das minhas mãos
São momentos
Do teu corpo
E da minha boca
Cada um deles
Esquece as palavras
Mistura temperaturas
Para te beijar
Em cada instante
Dou-te meu olhar
Para o teu invejar
E todo o meu cheiro
Para o enlevo do teu
Sonho as histórias
Da minha voz e da tua
E o calor corre
Enchendo meu sangue
Em cada instante
Transbordo no precipício
Do teu gosto de aurora
E bebo o orvalho
É assim que me alimento
De teu corpo entorno
Dos momentos em que
As lembranças da vida
Para a vida retorna

***

O tempo finca
A demanda
Porosa e fria
E desmanda

Nenhum amor
Quando súdito
Pode sentir
As coisas do rei

Ele vive é sem liturgia
Se vestindo de enlevo
Sem simulações

O medo não é medo
Quando parece sentido
E só escolhe o perdão

Seu jeito súbito
Denuncia a razão
E coloca loucura
Em todas as mãos

***

Foi uma canção ferida
Que a mordaça deixou
Escapar da boca sedenta
Fugindo de sua hora

Foi uma dor fingida
Nas horas sem contas
Saindo do seu real
Em perfume e fel

Desmandou as mãos
E o ferimento entalhado
Descomposto na costura
Nem precisou de perdão

Nascido assim mesmo
O que se quer, se quiser
Juntado as partes
Que decompõem uma razão

***

Sonho com você
E meus sonhos
Escondem a impotência
Que o tempo
Impôs a meu corpo

A poesia que dele sei
Ficou esmaecida
Virou lembrança
E só pode estar mesmo
Assim

A poesia que sei das cores
Não está nas minhas mãos
Nelas agora há um momento
De terra e chão queimado
Pela angústia

Meu coração pertence
Mas meu corpo
Constrange a beleza
Do amor que sinto

Então minhas mãos
Nunca te tocam
E por isso peço perdão

***

A paixão não sabe a hora
De esconder-se da dor
E nem sonha pra sempre
Viver do mesmo calor
Ela não morre ardente
Como queremos supor
Só fica indiferente
Negando seu estupor
Mas um dia a saudade sente
Dispondo o seu valor
É quando o tempo mente
Nos descaminhos do amor
Deixando tanto da gente
Para o melhor de nós dois

***

Enquanto viver
E sentir o vento
Correndo em teu corpo
Sou eu te abraçando
Suavemente
Sou eu, teu
Sinceramente

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2 comentários:

  1. É tudo muito lindo Quinan.

    Bras teodoro agora tem me acompanhado às noites... finalmente!

    bjs.

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  2. Edilene,

    Que bom que esta gostando do livro.

    Abração.

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