terça-feira, 19 de maio de 2009

O POVO DO BELO MONTE XX - Poemas – Deixados pelo pintor para Anabel.

.
***

Súbita mulher
Que redesenha
Minha angústia
Em contentamento

Fúlgida mulher
Que colhe
Das labaredas
A umidade do amor

Túmida mulher
Que dança
Improváveis notas
Fingindo aprendiz

Lúcida mulher
Que só é louca
Quando me quer

***

De amor
Chamaria o teu nome
Minhas mãos
Dir-te-iam das saudades
De desejo
Vestiria teus beijos
Nossos braços
Sonhariam verdades
E um rio
Escolheria o caminho
Encobrindo
Nossas pegadas
Escondendo do desencontro
Os restos do amor sonhado

***

Fechem as cores
Apaguem as luzes
E amordacem os vaga-lumes
Cubram as ruas e os anfiteatros
Ponham as casas nos porões
E cubram com escuridão
Juntem sol, lua
Estrelas e amarrem,
Feito uma trouxa,
Com as pontas do céu
Deixem o céu, ao próprio léu
Fechem as nascentes
Dos rios, os centros
Os templos, o tempo
E a periferia
Escondam a cidade
Os remédios antigos
Os novos sabidos
Façam o que digo
E me tragam
Um coma induzido
Meu único abrigo
Até tua chegada

***

Pensei suportar
Penei esperar
Parecia um rei
Desgovernando
A lei que tracei
Sem traçar
Pensei controlar
Penei separar
Parecia a lei
Reinando
Num rei
Que ficou
Sem lugar
Parte de mim
Era o rei
A outra, a lei
Em qual nem sei
Das duas
Eu mais apanhei

***

Entre conteúdos
E fazimentos
Dizendo do olhar
Decerto o teu
Estavas aqui
No fragmento
Da tua voz
Lenindo saudade

As palavras
Que traduzi ouvir
Pediam meu coração
Fossem sinônimos
Só de paixão
E ensinasse
Melhor conseguir
Tolerar do tempo
O seu andamento

***

Ainda que a lua
Jogasse restos de luar
Ainda que as palavras
Soassem em mim
Ainda que invejasse
As que faltaram
Ainda que me imaginasse
Vestindo teu corpo
E sentindo a volúpia
Da tua presença
Mesmo assim
Senti a solidão
E me perdi completamente
Minha identidade
Ficou nos teus olhos
E a solidão do mundo
Está entrando pela janela

***

Um dia ou quantos
Tem nesse turbilhão
De longas horas
Ressoando nas ruas
Que lembram você
Em quantos e tantos
Ainda é primavera
E a esquina espera
Seus passos passar
Em que dias estão
Escondidos os instantes
Do seu jeito de olhar
Em que segundo andará
Tudo o que nascemos
E nunca morrerá
Em que hora do dia
Um conflito haverá
O medo é tão perto
E na tarde a saudade
Não sai do instante
Em que não estás

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário