sábado, 16 de maio de 2009

O POVO DO BELO MONTE XIX - Poemas – Deixados pelo pintor para Anabel.

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***

O que não te posso dar
Em todas as horas de viver
Dou-te assim, no pensamento

O corpo de outras mulheres
Ainda me lembro, era o teu
A voz de todas elas
Eu sei que era a tua
O olhar, se as amei
Só poderia ser o teu

A ti pertence o pensamento
Deslembrando o tempo
E as mil vezes que morri
Antes de te reconhecer

Mando as horas pra frente
E te dou vivido, o que sou
E o que finjo e finjo tão bem
Que sou a mentira me crendo real
Em todas as horas de viver
Dos instantes antes de te conhecer
Até os momentos, os últimos que vou ter
Também te invento inteira
No meu pensamento
E te imagino minha e verdadeira
Para jamais esquecer

***

Se hoje uma dor
Veste teus olhos
Muito amor
Sente o perdão

Se o fato, o ato
Ainda choram
Feito uma lança
No coração

O teu caráter
Quem absolve
E te concede
Sua razão

Porque é assim
Que a vida mora
Quando erramos
É construção

***

Deixa-me te amar muito
Em todos os momentos
Deixa-me eternizar
No meu corpo o teu
Onde já habitas
Deixa
Refletido estar
Sempre
Nos teus olhos
Onde possuo dimensão

***

Salto pra dentro do teu amor inteiro
Não é uma parte de mim que te ama
Nem a que depressa queima
Nem a que contém calor
Salto com a vida toda
Com todos os ferimentos
E as cicatrizes da dor
Com todos os momentos
Em que há verdade no amor
Com todos os rudimentos
Que me foi dado supor
Salto pra dentro do teu calor inteiro
Não é uma parte de mim que te quer
Salto com a vida toda
Desde a puberdade
Até a madura idade
Salto de todas as lembranças
E do que quero esquecer
Com a vida toda
Como mandam o corpo e a alma
É assim que salto
Para perto do teu amor

***

Que só houvesse um reino
Queria eu
Onde só houvesse súditos
Seria eu
E tu
Se quisesses, seria

Assim ninguém reinaria
Por sobre qualquer vontade
As guerras e quem vence
Qualquer delas
Seria o de menos
E nem eu nem tu
Invejaríamos qualquer batalha

E quem soubesse do amor
E viesse contar
Perder-se-ia no reino
Procurando um rei
Pra quem delatar

***

O verde engolia o silêncio
E invejava o instante
Vomitando mormaços

Havia entrecortes de solidão
Espalhando ermos e sinais

Ali o inesperado esperado
Entre suores e restos de adolescência
Como encanto conspirado
Em formas e zelos

Dois seres
Recitavam seus
Sins e nãos
Jurando um jeito de nascer

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2 comentários:

  1. Esse é de fazer pausar a respiração, depois acelerar... e pausar... e acelerar... um desassossego.

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