sexta-feira, 15 de maio de 2009

O POVO DO BELO MONTE XVIII - Poemas – Deixados pelo pintor para Anabel.

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***

Fui inventado aos poucos
Assim
Meus olhos
Teu olhar inventou
Meus cabelos de algodão
Foi coisa de tuas mãos
O sol queimando um beijo
E o meu desejo
Sei quem inventou
A mentira, tiraste da minha boca
Para deixar a maciez
Que tua pele inventou
Inventaste serenidade sim
E um jeito de te amar
Sem fim
E dentro de ti
Uma parte de mim
Sei quem inventou
No meu coração
Um senso de direção
Uma amarração
Um pouco de adolescência
Num jeito de poesia
Inventaste meu cheiro
E saliências nas minhas mãos
E me inventaste
Com muita sabedoria
Tão sem idade
Tal qual eu sou

***

Ao lembrar
Teus olhos

Transmuda os meus
Nos teus

Sobrepõe à minha face
A tua
Materializada no pensamento

E te transporto inteira
Pra dentro de mim

E de repente te sou
Minha

E de repente me és
Teu

Enlouqueci?
Pode ser que sim
Pode ser que não

Enlouquecemos?
Tenho certeza

***

Queria um dia

Me enrodilhar no teu corpo
E sair do meu mundo
Entrando no teu
Trazendo o teu mundo
Pra dentro do meu
Te entregando ereto
O amor dos meus gestos
Enquanto são meus

***

Transportar-me
Para este papel branco
Com a força do mar
A severidade dos ventos
A pureza dos sonhos
E ser tão verdadeiro
Como minhas horas de amor
E depois
Ver nele teu rosto
Nas letras que desenham
O meu pensamento

***

O gosto sobra
Na memória da boca
Os olhos passam
As horas pra trás
O súdito anda
O domínio dum rei
E se põe em espera
Por entre as manhãs
E as palavras relidas
Que de mãos dadas
Ressoam bem além
De seus significados
Guardam a chave
Do bem guardado
E se desbotam
De tanta vontade
Desencontrados
Na vida toda
Como entender
Que existe o pecado
Se foste só tu
Nos meus amores
Fingindo mulheres
Em todas as faces

***

Sabem as palavras
O momento dos versos
Que vivem em mim
Impetuosos e livres
Às vezes, andam
Por tempos
Em outros quintais
E as palavras choram
Doloridas de ausência
Mas as consolo
Dando-lhe a mão
Para, no portão,
Esperar um verso voltar


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