sábado, 23 de maio de 2009

O POVO DO BELO MONTE XXI - Poemas – Deixados pelo pintor para Anabel.

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***

A cama vazia
E os meus beijos
Jogados no chão

Soltos sem enlaço
Os meus abraços
Mofados estão

Ando jogado
Fora dos lençóis
Esparramado
Meio bagunçado
Cadê minhas mãos?

Peço não demore
Arrume logo o quarto
Antes que seja fato
Eu morrer de você

***

Rente um silêncio
De janela fechada
O quintal da casa
Recolhe no chão
O viço do jambeiro
Que taciturno dança
Passos de flores
Chorando saudade
Na mais perfumada
Das horas da noite
De uma paixão

Rente um silêncio
De janela fechada
O quintal da casa
Recolhe no chão
Um confuso luar
Cheirando a solidão
Que a lua minguando
Põe pela noite
Separando em pedaços
O mais dolorido
De uma canção

***

Dou cabimento ao que cabe
Inteiro em meu coração
Pela manhã o seu amor
Cabe então
No dia que passa o seu amor
Cabe então
Na tarde que vem o seu amor
Cabe então
Na noite que chega o seu amor
Cabe então
E em centímetros do meu desejo
A saudade do seu amor
Arde então

***

Percorrerei
Com meu corpo, o teu
Desvendarei todos os mistérios dele
Possuindo teus sentidos
Com avidez de querer morar
Dentro de ti, sempre
Sentirei teu cheiro mais íntimo,
Teu gosto
Arrepiarei cada vez
Que tua pele roçar minha pele
E te possuirei totalmente
Com vigor e suavidade
A mim pertencerás
E te pertencerei
Ilimitando os limites
Que tem qualquer lei

***

Seriam teus
Meus pensamentos
Fora do torpor
Em que tudo acontecia,
Minhas entranhas
Reviravam-se
Como num parto,
Como se o rebento
Fosse a própria dor
Dentro deles
Queria te levar
Por entre o povo da terra,
Fora de qualquer lei
Que só a loucura
Pode arrumar dentro da gente
Vagar com eles
Pela cor do quase esquecimento,
Por tons de solidão
E traços brutais
Chorar no meio
De uma guerra inteira
Vendo a verdade da minha vida
No pensamento
Queria que vivêssemos juntos
Uma fé dolorida
E momentos só possíveis
Aos incrédulos,
Nosso amor incompleto
E sem recesso, uma melancolia
E a absurda ausência
Da tua presença em mim

***

Torna-se queixume
A pele queimando
O calor da boca
Os olhos espantados
Em merecimento

A primavera gera
Mágica conspirada
Entre olhares e lençóis
E forma o ser
Enlaçando como heras
À vigência dos sarçais

Seduz o nascido
Cada parte de nós dois
Um reino indo
Onde o rei nunca foi

***

Todos os dias
Desesqueço teu olhar
E sonho com as rimas
Que as palavras
Sabem me dar

Todos os dias
Dentro de um verso
Esqueço os instantes
Em que não estás

Todos os dias
A saudade volta
Ao poema onde sei
Que sempre estarás

Todos os dias
Perco-me no tempo
Desesquecendo de te lembrar

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4 comentários:

  1. Quem são esse pintor e essa Anabel?
    Porquê sempre gosto tanto desses versos tão intensos e cheios de emoção?
    Me fala sempre desse povo do Belo Monte, dessa Anabel e seu pintor...

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  2. Jac, acho que Anabel pode ser qualquer uma de nós, e somos em algum momento da vida. Quanto ao pintor, bem, esse faz parte do universo masculino, assunto que ainda não domino... rsrsrs. Bjs!

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  3. Jac.,

    Espero que um dia leia o livro. Intensidade e amoção do começo ao fim.

    Te abraço.

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  4. Márcia,


    Você tem razão, rsss...

    Abraços

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