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IARA (RASGA O CORAÇÃO)
(Anacleto Medeiros/Catulo da Paixão Cearense)
Se tu queres ver a imensidão,
Do céu e mar,
Refletindo a prismatização
Da luz solar,
Rasga o coração,
Vem te debruçar,
Sobre a vastidão,
Do meu penar,
Rasga, o que hás de ver,
Lá dentro a dor, a soluçar,
Sob o peso de uma cruz, de lágrimas chorar,
Anjos a cantar,
Preces que dirás,
Deus a ritmar, seus pobres ais,
Sorve todo olor, que anda a rescender,
Verás que espinhosas, florações do meu sofrer,
Vê se podes ler, nas suas pulsações,
As brancas ilusões, que eu releguei, no seu gemer,
O que não pode é te dizer, nas palpitações,
Ouve-o, brandamente, docemente, a palpitar,
A se for por tal, num terno vesperal,
Mais puro que uma grande,
A se ouvir um hino, só de flores a cantar,
Sob um mar de pétalas de dores, ao luar,
Doido a te chamar, penso em te esperar,
Na ânsia de te ver, ou de morrer,
Tens o meu perdão, flor me vem abrir,
Este coração, na primavera desta dor,
Ao reflorir, mas ao sorrir,
Nos rubros lábios teus,
Terás minha paixão, sorrindo,
Adeus !
(Anacleto Medeiros/Catulo da Paixão Cearense)
Se tu queres ver a imensidão,
Do céu e mar,
Refletindo a prismatização
Da luz solar,
Rasga o coração,
Vem te debruçar,
Sobre a vastidão,
Do meu penar,
Rasga, o que hás de ver,
Lá dentro a dor, a soluçar,
Sob o peso de uma cruz, de lágrimas chorar,
Anjos a cantar,
Preces que dirás,
Deus a ritmar, seus pobres ais,
Sorve todo olor, que anda a rescender,
Verás que espinhosas, florações do meu sofrer,
Vê se podes ler, nas suas pulsações,
As brancas ilusões, que eu releguei, no seu gemer,
O que não pode é te dizer, nas palpitações,
Ouve-o, brandamente, docemente, a palpitar,
A se for por tal, num terno vesperal,
Mais puro que uma grande,
A se ouvir um hino, só de flores a cantar,
Sob um mar de pétalas de dores, ao luar,
Doido a te chamar, penso em te esperar,
Na ânsia de te ver, ou de morrer,
Tens o meu perdão, flor me vem abrir,
Este coração, na primavera desta dor,
Ao reflorir, mas ao sorrir,
Nos rubros lábios teus,
Terás minha paixão, sorrindo,
Adeus !
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Então, foi assim...
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O ano de 1896 foi bastante produtivo para o instrumentista, maestro e compositor Anacleto de Medeiros1. Ele formou a banda militar mais famosa de todos os tempos – a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro – e criou uma de suas mais belas peças musicais, a chótis2 Iara.
Gênero também grafado em inglês, schottisch, ou já devidamente aportuguesado, xote, Iara foi composta em homenagem a um barco homônimo, campeão de regatas, que se destacava em competições no Rio de Janeiro.
A beleza e a qualidade da composição – que se transformou num clássico chorístico e do repertório de bandas de música – chamaram a atenção do imponente Villa-Lobos que a aproveitou como tema central em Choros nº10 e levou o maestro Batista Siqueira a considerá-la “uma obra-prima de beleza e simplicidade”.
Iara foi gravada em 1907, ano de falecimento de Anacleto, pela Banda da Casa Edison. Em 1912, recebeu versos de profundo mau gosto do poeta Catulo da Paixão Cearense3 que a rebatizou de Rasga o Coração. Se por um lado ganhou em popularidade, por outro, perdeu em graça e leveza ao ser transformado em canção.
De acordo com Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello4, esses versos são tão numerosos que mereceram de Guimarães Martins, autor do livro Modinhas, a curiosa recomendação: “O cantor que não desejar interpretar todas as estrofes escolherá as que mais agradarem”.
O polêmico Catulo da Paixão Cearense, que, de quando em vez se apropriava de músicas alheias – Luar do Sertão (João Pernambuco) e Ontem ao Luar (Pedro de Alcântara), por exemplo – nas quais colocava letras, foi o principal parceiro de Anacleto de Medeiros, com quem compôs entre outras: Por um Beijo, Palma de Martírio, O Que Tu És, Perdoa, Nasci Para Te Amar, O Boêmio e Coração Oculto.
1 Anacleto Augusto de Medeiros 13/7/1866 Paquetá-RJ 14/8/1907 Paquetá-RJ.
2 Dança de salão de origem alemã, muito difundida na Europa em 1848. Chegou ao Brasil em 1851 e logo se popularizou,
adentrando o mundo rural. No Rio Grande do Sul sua aceitação coincidiu com a difusão da gaita. No Nordeste era
executada ao som das sanfonas ou foles.
3 08/10/1863 São Luís-MA 10/5/1946 Rio de Janeiro-RJ.
4 A Canção no Tempo: 85 anos de músicas brasileiras.
Ruy Godinho
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