sábado, 16 de outubro de 2010

ANA TERRA


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Traição
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Nelson Rodrigues dizia que traição é trair o amante com o marido. Uma saudosa e querida ex-sogra dizia que se existisse pílula anticoncepcional na época dela com certeza seu marido seria corno. Muitas mulheres acham perfeitamente normal manter relação extraconjugal apenas por interesse sexual e jamais pensam em desfazer o casamento. Há mulheres fiéis por escolha. Há relacionamentos de todos os jeitos e maneiras e o que se conta à boca pequena nas famosas fofocas femininas é muito diferente do que se publica a respeito das diferenças entre homens e mulheres.


É muito recente a “libertação da mulher” para que se construam teses a respeito, mas o que observo é que há tantas diferenças entre homens e mulheres quantas há entre indivíduos. Há mulheres que separam amor de sexo e homens que não.

Há homens super maternais, fiéis e casamenteiros. Há mulheres que jamais seriam mães se a cobrança social as deixasse em paz para apenas trabalhar e ganhar dinheiro. E por que não? Sexo sem culpa foi uma das grandes conquistas da minha geração, e isso só aconteceu porque podemos evitar tanto a gravidez indesejada quanto o marido indesejado. Casei quatro vezes e todos os casamentos foram totalmente diferentes um do outro. Os maridos também. As separações foram decididas por mim, deixando para trás muitos privilégios como riqueza e conforto social. E recomeçando do zero. Não me arrependo.

Ouço muitas opiniões a respeito de traição. Há os que pensam que escapadas e aventuras apenas sexuais, sem envolvimento afetivo, não são traição, mas um divertimento como outro qualquer. Outros acham que traição é se envolver emocionalmente mesmo que não haja sexo. Eu, que provavelmente sou uma idiota holística e anticartesiana jamais soube como corpo e alma se separam. Amar alguém e não sentir tesão e ter tesão sem amar? Juro que não sei e nem quero saber.

Deslealdade para mim é o que se mente quando os olhos não veem, mas o coração pressente. Ou desqualificar o que os olhos veem e o coração sente. Ou demonstrar interesse por outro ou outra na presença do par. Ou ser negligente com a “esposa”, abrindo naturalmente a porta para os consoladores de “viúvas” citando Nelson outra vez. E esses existem aos montes, inclusive derrubando o mito masculino: “mulher de amigo meu pra mim é homem.” É nada. Só é mais perto.

O que acho é que ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Trair quem nos trai não é traição, é isonomia. E pra não dizer que não falei de flores, amar é a melhor coisa que foi inventada. Melhor ainda quando pode virar letra de música.


Por Ana Terra

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