.
AQUELE ABRAÇO
(Gilberto Gil)
(Gilberto Gil)
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março
Alô, alô Realengo – aquele abraço!
Alô, torcida do Flamengo – aquele abraço!
Chacrinha continua balançando a pança
E buzinando a moça e comandando a massa
E continua dando as ordens no terreiro
Alô, alô, seu Chacrinha – velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha, Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha – velho palhaço
Alô, alô, Terezinha – aquele abraço!
Alô, moça da favela – aquele abraço!
Todo mundo da Portela – aquele abraço!
Todo mês de fevereiro – aquele abraço!
Alô Banda de Ipanema – aquele abraço!
Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu – aquele abraço!
Pra você que me esqueceu – aquele abraço!
Alô, Rio de Janeiro – aquele abraço!
Todo o povo brasileiro – aquele abraço!
Então, foi assim...
.
“Aquele Abraço, Gil!”
Era assim que os soldados saudavam o cantor tropicalista Gilberto Gil1 no quartel da Marechal Deodoro, Rio de Janeiro, onde ele esteve preso, durante a repressão militar, no ano de 1969. Os carcereiros reproduziam um bordão usado na época pelo humorista Lilico, em um programa na TV Globo.
Aquela saudação ficou marcada na mente do compositor como uma manifestação de cordialidade de pessoas que, por questões profissionais, trabalhavam num ambiente de repressão e tortura.
Alguns meses depois de solto, Gil esteve no Exército, para tratar de sua saída estratégica do Brasil. “Reencontrar a cidade do Rio de Janeiro na manhã que nós saímos da prisão e revimos a Avenida Getúlio Vargas, ainda com a decoração do carnaval, foi o pano de fundo da canção. Na minha cabeça Aquele Abraço se passa numa quarta-feira de cinzas; é quando o ‘filme’
da música é em mim mentalmente locado”, conta Gil a Carlos Rennó2.
“Na manhã de minha volta a Salvador, fui visitar Mariah Costa, mãe de Gal”, continua Gil, “ali na casa dela, eu ideei e comecei Aquele Abraço . Finalmente eu ia poder ir embora do país e tinha que dizer bye bye, sumarizar o episódio todo que estava vivendo, e o que ele representava, numa catarse. Que outra coisa para um compositor fazer uma catarse senão
numa canção?”
Ainda de acordo com a referida obra, Gil comenta: “no avião mesmo eu terminei a música, escrevendo a letra num papel qualquer e mentalizando a melodia muito simples, quase de blues; como eu não dispunha de instrumento, tive que recorrer a uma estrutura fácil para guardar na memória. Quando cheguei à Bahia, eu só peguei o violão e toquei; já estava
comprometido afetivamente com a melodia.”
Não foi propriamente no quartel de Realengo que Gil esteve preso. “É uma associação inexata, feita por aproximação; eu nem queria me referir ao lugar certo onde havia ficado preso.” Um dado curioso é que o bairro de Realengo, que ficou famoso com a música, antigamente se chamava Real Engenho. Na época, nos letreiros das locomotivas, era grafado Real Engº. O povo lia: Realengo. O poder de síntese do brasileiro consagrou um novo nome para o bairro.
A música causou dois mal-entendidos: um com o humorista Lilico e outro com o apresentador Chacrinha. Lilico, o autor do bordão, achou que teria direito à música. Ficou aborrecido com Gil, que não assistia ao programa, pois na cadeia não tinha televisão. Gil só veio a assisti-lo por curiosidade depois que foi solto. A primeira reação de Chacrinha foi de bronca e irritação. Como na época ele era criticado por diversos setores da sociedade, acusado de fazer programas vulgares e apelativos, achou que as referências ao seu nome fossem achincalhe. Fato contemporizado com a participação de amigos, que o convenceram de que os versos de Gil eram apenas uma exaltação. Tanto que Chacrinha, com o sucesso da música, também ficou conhecido como Velho Guerreiro.
O samba foi lançado em agosto de 1969, em um compacto simples, juntamente com Omã Iaô, também de Gil. Nesse mesmo mês saiu seu terceiro disco, o LP Gilberto Gil, que incluiu Aquele Abraço no repertório. A música se transformou num sucesso nacional, que Gil infelizmente não pôde vivenciar. Havia partido, em julho, para o exílio em Londres, com sua esposa Sandra, Caetano e a esposa Dedé, em busca de salvar seus a-braços.
Era assim que os soldados saudavam o cantor tropicalista Gilberto Gil1 no quartel da Marechal Deodoro, Rio de Janeiro, onde ele esteve preso, durante a repressão militar, no ano de 1969. Os carcereiros reproduziam um bordão usado na época pelo humorista Lilico, em um programa na TV Globo.
Aquela saudação ficou marcada na mente do compositor como uma manifestação de cordialidade de pessoas que, por questões profissionais, trabalhavam num ambiente de repressão e tortura.
Alguns meses depois de solto, Gil esteve no Exército, para tratar de sua saída estratégica do Brasil. “Reencontrar a cidade do Rio de Janeiro na manhã que nós saímos da prisão e revimos a Avenida Getúlio Vargas, ainda com a decoração do carnaval, foi o pano de fundo da canção. Na minha cabeça Aquele Abraço se passa numa quarta-feira de cinzas; é quando o ‘filme’
da música é em mim mentalmente locado”, conta Gil a Carlos Rennó2.
“Na manhã de minha volta a Salvador, fui visitar Mariah Costa, mãe de Gal”, continua Gil, “ali na casa dela, eu ideei e comecei Aquele Abraço . Finalmente eu ia poder ir embora do país e tinha que dizer bye bye, sumarizar o episódio todo que estava vivendo, e o que ele representava, numa catarse. Que outra coisa para um compositor fazer uma catarse senão
numa canção?”
Ainda de acordo com a referida obra, Gil comenta: “no avião mesmo eu terminei a música, escrevendo a letra num papel qualquer e mentalizando a melodia muito simples, quase de blues; como eu não dispunha de instrumento, tive que recorrer a uma estrutura fácil para guardar na memória. Quando cheguei à Bahia, eu só peguei o violão e toquei; já estava
comprometido afetivamente com a melodia.”
Não foi propriamente no quartel de Realengo que Gil esteve preso. “É uma associação inexata, feita por aproximação; eu nem queria me referir ao lugar certo onde havia ficado preso.” Um dado curioso é que o bairro de Realengo, que ficou famoso com a música, antigamente se chamava Real Engenho. Na época, nos letreiros das locomotivas, era grafado Real Engº. O povo lia: Realengo. O poder de síntese do brasileiro consagrou um novo nome para o bairro.
A música causou dois mal-entendidos: um com o humorista Lilico e outro com o apresentador Chacrinha. Lilico, o autor do bordão, achou que teria direito à música. Ficou aborrecido com Gil, que não assistia ao programa, pois na cadeia não tinha televisão. Gil só veio a assisti-lo por curiosidade depois que foi solto. A primeira reação de Chacrinha foi de bronca e irritação. Como na época ele era criticado por diversos setores da sociedade, acusado de fazer programas vulgares e apelativos, achou que as referências ao seu nome fossem achincalhe. Fato contemporizado com a participação de amigos, que o convenceram de que os versos de Gil eram apenas uma exaltação. Tanto que Chacrinha, com o sucesso da música, também ficou conhecido como Velho Guerreiro.
O samba foi lançado em agosto de 1969, em um compacto simples, juntamente com Omã Iaô, também de Gil. Nesse mesmo mês saiu seu terceiro disco, o LP Gilberto Gil, que incluiu Aquele Abraço no repertório. A música se transformou num sucesso nacional, que Gil infelizmente não pôde vivenciar. Havia partido, em julho, para o exílio em Londres, com sua esposa Sandra, Caetano e a esposa Dedé, em busca de salvar seus a-braços.
.
1 Gilberto Passos Gil Moreira 29/6/1942 Salvador-BA.
2 Gilberto Gil: todas as letras.
1 Gilberto Passos Gil Moreira 29/6/1942 Salvador-BA.
2 Gilberto Gil: todas as letras.
Ruy Godinho
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário