terça-feira, 2 de março de 2010

SONYA PRAZERES - O milagre do ipê amarelo


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Há em mim uma vontade de beleza

uma certeza de fartura e de grandeza
por isto cresço alta e magra a mais,
e do alto de tal sutil leveza
espalho em amarelo farto minhas flores
não para a desumana vaidade que me serve à mesa
mas para que o pequeno humano em si perceba
o pêso pluma espelho de seu ouro
e a ascensão necessária
a este itinerário

de semente em broto em tronco em corpo em pé
vou depurando a forma em cor até
ser a razão de tão distinta dor
o cacho o leite o fruto enfim a flor

e do mais alto de mim, quando me canso
deixo irem-se as pétalas a seu destino
de oferecer ao chão este tesouro
a miscigenação da terra ao ouro
o principio e o fim da realeza

pré-destino pleno
do que a vida mundana e dadivosa
oferece de graça em prato cheio
não me alieno
nem por força do medo
ou da ganância
razão nada humana ratazana
que em sua cegueira anã rasteira
azara a sorte
me rói a lida
corta da vida ensaio e chance
quer ceifar em mim a certeza da beleza

mas a dor do corte
me faz mais forte
e ainda mais esguia
em progressiva teimosia
roubo a luz de quem me rouba a vida
e dou de trôco uma nova florada
para que pasmem todos seu olhares céticos
no milagre que renovo a cada dia
de sorrir em flor
a retribuir o ouro para o sol
autenticando as aves do arrebol


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