sábado, 7 de março de 2009

CORPO PRESENTE

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Todas as igrejas do mundo
Hão de fechar suas portas
Quando começar a madrugada

Nelas há de estar meu corpo
Apodrecido para ser comido
Pelos ratos e seres miúdos
Que nos porões espreitam
A alma na carne empobrecida

Hão de roer todos os pedaços
Do que pensei ser

Disputarão nas dentadas
O que está perdido em mim

E o amor impregnado
Nos meus sentidos restará
Final como carcaça
Abandonada na escuridão

Dentes luzirão
Fantasmagóricos
Em volta do cadáver
Insepulto da minha alma

Pelos bares da cidade
Um poeta exibirá
Todos os dias
O recipiente apropriado
Vazio de minhas cinzas
Proclamando aos habituais
Era
Corpo e alma
Um filho da puta

E todas as igrejas do mundo
Continuarão a fechar suas portas
Quando começar a madrugada
Nelas estarão outros corpos
Para o apetite dos cães famintos
Que decerto também comerão
Do amor impregnado na carcaça
De alguma alma

MQ

6 comentários:

  1. Desista! Você não vai morrer nunca, mesmo que isso pareça cansativo.

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  2. oi, me interessei pelo grupo de voces, adoraria se tivesse um contato, telefone etc. Paz!

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  3. Márcia,

    Não posso desistir, não que ache cansativo viver, mas tenho que fazer pequenas revoluções do lado de lá também.
    Te abraço

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. danone,

    Meu telefone é 91 3225 11 67.
    O email :
    marcos@ladodedentro.com.br

    Será um prazer.
    Abraços

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  6. Revoluções do lado de lá, sim e sempre. E do lado de cá também. Desistir é dessa idéia de que acaba. Lembrei de uma letra do Chico Buarque, que mergulha nessas inquietações de vida e morte e é lindíssima.

    "Futuros Amantes

    Não se afobe, não
    Que nada é pra já
    O amor não tem pressa
    Ele pode esperar em silêncio
    Num fundo de armário
    Na posta-restante
    Milênios, milênios
    No ar

    E quem sabe, então
    O Rio será
    Alguma cidade submersa
    Os escafandristas virão
    Explorar sua casa
    Seu quarto, suas coisas
    Sua alma, desvãos

    Sábios em vão
    Tentarão decifrar
    O eco de antigas palavras
    Fragmentos de cartas, poemas
    Mentiras, retratos
    Vestígios de estranha civilização

    Não se afobe, não
    Que nada é pra já
    Amores serão sempre amáveis
    Futuros amantes, quiçá
    Se amarão sem saber
    Com o amor que eu um dia
    Deixei pra você"

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