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NO RANCHO FUNDO
(Ari Barroso/Lamartine Babo)
No rancho fundo,
Bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade,
Contam coisas da cidade...
No rancho fundo,
De olhar triste e profundo,
Um moreno canta as mágoas,
Com os olhos rasos d’água...
Pobre moreno,
Que de noite no sereno,
Espera a lua no terreiro,
Tendo um cigarro por companheiro,
Sem um aceno, ele pega da viola,
E a lua por esmola,
Vem pro quintal desse moreno!
No rancho fundo,
Bem pra lá do fim do mundo,
Nunca mais houve alegria,
Nem de noite, nem de dia!
Os arvoredos,
Já não contam mais segredos,
E a última palmeira,
Já morreu na cordilheira!
Os passarinhos,
Internaram-se nos ninhos,
De tão triste essa tristeza,
Enche de trevas a natureza!
Tudo por que?
Só por causa do moreno,
Que era grande, hoje é pequeno,
Para uma casa de sapê.
Se Deus soubesse,
Da tristeza lá da serra,
Mandaria, lá pra cima,
Todo o amor que há na terra...
Porque o moreno,
Vive louco de saudade,
Só por causa do veneno,
Das mulheres da cidade...
Ele que era,
O cantor da primavera,
Que até fez do Rancho Fundo,
O céu melhor que há no mundo...
O sol queimando,
Se uma flor lá desabrocha,
A montanha vai gelando,
Lembrando o aroma da cabrocha...
(Ari Barroso/Lamartine Babo)
No rancho fundo,
Bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade,
Contam coisas da cidade...
No rancho fundo,
De olhar triste e profundo,
Um moreno canta as mágoas,
Com os olhos rasos d’água...
Pobre moreno,
Que de noite no sereno,
Espera a lua no terreiro,
Tendo um cigarro por companheiro,
Sem um aceno, ele pega da viola,
E a lua por esmola,
Vem pro quintal desse moreno!
No rancho fundo,
Bem pra lá do fim do mundo,
Nunca mais houve alegria,
Nem de noite, nem de dia!
Os arvoredos,
Já não contam mais segredos,
E a última palmeira,
Já morreu na cordilheira!
Os passarinhos,
Internaram-se nos ninhos,
De tão triste essa tristeza,
Enche de trevas a natureza!
Tudo por que?
Só por causa do moreno,
Que era grande, hoje é pequeno,
Para uma casa de sapê.
Se Deus soubesse,
Da tristeza lá da serra,
Mandaria, lá pra cima,
Todo o amor que há na terra...
Porque o moreno,
Vive louco de saudade,
Só por causa do veneno,
Das mulheres da cidade...
Ele que era,
O cantor da primavera,
Que até fez do Rancho Fundo,
O céu melhor que há no mundo...
O sol queimando,
Se uma flor lá desabrocha,
A montanha vai gelando,
Lembrando o aroma da cabrocha...
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Então, foi assim...
No Rancho Fundo, um dos mais belos clássicos da música popular,
composição de Ari Barroso1 e de Lamartine Babo2 é uma parceria, pelo
menos nesta música, bastante interessante. Dizem que Lamartine Babo
simplesmente botou outra letra nesta música, sem o consentimento dos
autores originais. Mas há controvérsias.
Sérgio Cabral3 relata que na época áurea do Teatro de Revista no Rio
de Janeiro, por volta do fim da década de 1920 e início de 1930, Ari Barroso
costumava compor músicas para teatro. Diversas peças tiveram músicas
dele. Foi assim com a revista É do Outro Mundo, escrita por J. Carlos4, um
dos maiores caricaturistas e ilustradores da história da imprensa brasileira.
Pois bem, nesta peça Ari Barroso escreveu uma música que recebeu letra
de J. Carlos e se chamava Esse Mulato Vai Ser Meu (Na Grota Funda), interpretada
pela atriz e cantora Araci Cortes. A letra era assim:
“Na grota funda
na virada da montanha
Só se conta uma façanha
Do mulato da Raimunda
Matou a nega
E depois, sem mais aquela
Foi juntá com uma galega
Ela morreu
Na virada da montanha
Vai havê outra façanha
Esse mulato vai sê meu
Esse mulato
Vai fazendo o que ele qué
Já matou duas mulhé
Porque bamba ele é de fato
Se não Morreu
Vai mangá esse cachorro
Na virada ali do morro
Esse mulato vai sê meu”
A peça estreou no dia 13 de junho de 1930 e não obteve muito sucesso. Foi
retirada de cartaz 16 dias após a estréia. Um dos incautos que a assistiu foi Lamartine
Babo. Lalá, como era chamado, adorou a música de Ari Barroso, mas
detestou a letra de J. Carlos. De acordo com Sérgio Cabral, sem consultar os autores,
Lalá tratou de fazer outra letra, mudou o nome da música para No Rancho
Fundo e cantou a nova obra num programa na Rádio Educadora do Brasil, do
Rio de Janeiro, acompanhado pelo Bando de Tangarás5. Nascia um clássico da
música brasileira e uma inimizade.
J. Carlos ficou magoado, injuriado. Achou a rejeição uma desfeita e brigou
seriamente com Ari Barroso. Ari explicou para o antigo parceiro que tudo havia
ocorrido à sua revelia, que ele não tinha nada a ver com isso. Tudo em vão.
J. Carlos não quis conversa e morreu sem jamais o haver perdoado.
Ari jurou inocência em todas as entrevistas que abordavam o assunto, mas
pelo jeito gostou da mudança da letra. Pelo que se sabe, nunca brigou com Lamartine
por causa disso. E mais, se estivesse interessado em manter a letra de
J. Carlos, não permitiria que, um ano depois, a cantora Elisa Coelho gravasse a
música com a letra de Lamartine.
Mas, para quem conheceu a personalidade e as artimanhas de Ari Barroso
sabe bem que ele não só consentiu como se omitiu. Pelo menos, Jairo Severiano
e Zuza Homem de Mello6 não têm dúvidas em afirmar que Ari Barroso não só
autorizou a troca da letra como tocou o piano na gravação de Elisa Coelho.
Assim morreu Na Grota Funda e nasceu No Rancho Fundo, composição de
Ari Barroso e Lamartine Babo.
1 Ari Evangelista Barroso 07/11/1903 Ubá-MG 09/02/1964 Rio de Janeiro-RJ.
2 Lamartine de Azeredo Babo 10/01/1904 Rio de Janeiro-RJ 16/6/1963 Rio de Janeiro-RJ.
composição de Ari Barroso1 e de Lamartine Babo2 é uma parceria, pelo
menos nesta música, bastante interessante. Dizem que Lamartine Babo
simplesmente botou outra letra nesta música, sem o consentimento dos
autores originais. Mas há controvérsias.
Sérgio Cabral3 relata que na época áurea do Teatro de Revista no Rio
de Janeiro, por volta do fim da década de 1920 e início de 1930, Ari Barroso
costumava compor músicas para teatro. Diversas peças tiveram músicas
dele. Foi assim com a revista É do Outro Mundo, escrita por J. Carlos4, um
dos maiores caricaturistas e ilustradores da história da imprensa brasileira.
Pois bem, nesta peça Ari Barroso escreveu uma música que recebeu letra
de J. Carlos e se chamava Esse Mulato Vai Ser Meu (Na Grota Funda), interpretada
pela atriz e cantora Araci Cortes. A letra era assim:
“Na grota funda
na virada da montanha
Só se conta uma façanha
Do mulato da Raimunda
Matou a nega
E depois, sem mais aquela
Foi juntá com uma galega
Ela morreu
Na virada da montanha
Vai havê outra façanha
Esse mulato vai sê meu
Esse mulato
Vai fazendo o que ele qué
Já matou duas mulhé
Porque bamba ele é de fato
Se não Morreu
Vai mangá esse cachorro
Na virada ali do morro
Esse mulato vai sê meu”
A peça estreou no dia 13 de junho de 1930 e não obteve muito sucesso. Foi
retirada de cartaz 16 dias após a estréia. Um dos incautos que a assistiu foi Lamartine
Babo. Lalá, como era chamado, adorou a música de Ari Barroso, mas
detestou a letra de J. Carlos. De acordo com Sérgio Cabral, sem consultar os autores,
Lalá tratou de fazer outra letra, mudou o nome da música para No Rancho
Fundo e cantou a nova obra num programa na Rádio Educadora do Brasil, do
Rio de Janeiro, acompanhado pelo Bando de Tangarás5. Nascia um clássico da
música brasileira e uma inimizade.
J. Carlos ficou magoado, injuriado. Achou a rejeição uma desfeita e brigou
seriamente com Ari Barroso. Ari explicou para o antigo parceiro que tudo havia
ocorrido à sua revelia, que ele não tinha nada a ver com isso. Tudo em vão.
J. Carlos não quis conversa e morreu sem jamais o haver perdoado.
Ari jurou inocência em todas as entrevistas que abordavam o assunto, mas
pelo jeito gostou da mudança da letra. Pelo que se sabe, nunca brigou com Lamartine
por causa disso. E mais, se estivesse interessado em manter a letra de
J. Carlos, não permitiria que, um ano depois, a cantora Elisa Coelho gravasse a
música com a letra de Lamartine.
Mas, para quem conheceu a personalidade e as artimanhas de Ari Barroso
sabe bem que ele não só consentiu como se omitiu. Pelo menos, Jairo Severiano
e Zuza Homem de Mello6 não têm dúvidas em afirmar que Ari Barroso não só
autorizou a troca da letra como tocou o piano na gravação de Elisa Coelho.
Assim morreu Na Grota Funda e nasceu No Rancho Fundo, composição de
Ari Barroso e Lamartine Babo.
1 Ari Evangelista Barroso 07/11/1903 Ubá-MG 09/02/1964 Rio de Janeiro-RJ.
2 Lamartine de Azeredo Babo 10/01/1904 Rio de Janeiro-RJ 16/6/1963 Rio de Janeiro-RJ.
3 No Tempo de Ari Barroso.
4 José Carlos de Brito e Cunha.
5 Formado por Almirante (Henrique Foreis Domingues), Noel Rosa, João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha),
Álvaro Miranda e Henrique Brito.
6 A Canção no Tempo: 85 anos de músicas brasileiras.
Ruy Godinho
;
4 José Carlos de Brito e Cunha.
5 Formado por Almirante (Henrique Foreis Domingues), Noel Rosa, João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha),
Álvaro Miranda e Henrique Brito.
6 A Canção no Tempo: 85 anos de músicas brasileiras.
Ruy Godinho
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