sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

CAMILO DELDUQUE - Estrada do Mosqueiro - no carro do Felipe

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Aquele burro velho, parado no meio da grama queria falar comigo. Balançou o rabo, empinou as orelhas, sacudiu a cabeça e, meio aprumado, baliu. Sim, burro com voz de ovelha. Não, nada disso, aquele quadrúpede, notei, era irônico imitador de onomatopéias. Ele me chamou. Atendi. Não cheguei muito perto, atento, com medo de levar coice ou receber uma sonora gargalhada.
O eqüino mostrava os dentes como se fosse apresentador de televisão. Daí, perguntou, em boa imitação de voz humana, se eu lembrava de um sujeito da família dele que, lá pelas bandas da Galiléia, havia carregado um menino. Esse dito menino, quando adulto, tornara-se pregador eloqüente e, agora, era cantado em verso e prosa no mundo todo. Pensei com meus botões sobre o porquê daquele burro, no meio de um gramado mal cuidado, querer saber do parente tão distante. Matutei e, feito quem nada quer, convidei meu companheiro burro para tomarmos umas doses de cachaça no boteco da esquina. Mais por curiosidade, eu queria conversar. Ele, certamente, preferia continuar imitando onomatopéias e humanos. Bebemos todas e não conseguimos lembrar os nomes. Nem do jerico, nem do menino.

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