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FALSA BAIANA
(Geraldo Pereira)
Baiana que entra na roda
Só fica parada
Não canta, não samba,
Não bole nem nada,
Não sabe deixar
A mocidade louca,
Baiana é aquela,
Que entra no samba
De qualquer maneira,
Que mexe e remexe,
Dá nó nas cadeiras
E deixa a moçada
Com água na boca.
A falsa baiana
Quando cai no samba
Ninguém se incomoda
Ninguém bate palma
Ninguém abre a roda
Ninguém grita, Oba!
Salve a Bahia sinhô!
Mas a gente gosta,
Quando uma baiana
Samba direitinho
De cima em baixo
Revira os olhinhos
E diz: Eu sou filha de São Salvador!
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Então, foi assim...
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No carnaval de 1944, o cantor e compositor Roberto Martins1 havia combinado ir a um baile com sua esposa. Apesar de não ser muito chegada às folias de Momo, D. Isaura abriu um precedente. Eis que chegado o dia, Roberto Martins teve a infeliz idéia de, antes do baile, tomar umas e outras com o cantor, compositor e valentão Geraldo Pereira2, no famoso Café Nice, no Rio de Janeiro. Lá pelas tantas, quando a graduação alcoólica já estava duplicando tudo à sua frente, lembrou-se do compromisso com a patroa. Consciente do considerável atraso, Roberto saiu esbaforido em direção ao clube, carregando consigo o amigo Geraldo como álibi. Quando chegaram lá encontraram um estranho contraste: D. Isaura fantasiada de graciosa baiana, mas com a cara da Araci de Almeida com crise de gastrite. Para aliviar a tensão, o malandro Roberto comentou com ela: “Mas o que é isso, meu amor? Você está parecendo uma falsa baiana!” E completou: “Isso dá samba”. E deu.
Roberto Martins, embora também compositor de sucessos, onde se incluem: Leva Meu Coração (com Mário Lago), Cordão dos Puxa-Sacos (com Eratóstenes Frazão) e Meu Consolo é Você (com Nássara), não aproveitou o mote. Foi Geraldo Pereira, quem se apropriou da idéia e criou Falsa Baiana, considerada pelos estudiosos como a constatação definitiva de seu talento criador.
Samba criado, Geraldo Pereira procurou o cantor Roberto Paiva para gravá-lo. Segundo Luís Fernando Vieira, Luís Pimentel e Suetônio Valença3, o cantor estava participando de uma reunião na casa de amigos, quando Geraldo Pereira chegou embriagado, com o violão debaixo do braço, querendo mostrar “o grande samba que acabara de fazer”. Como não conseguia tocar direito, Paiva o aconselhou a voltar pra casa e terminar a música. “Mas o samba está terminado, Roberto!”, gritou Geraldo exaltado. “Então está muito ruim, não quero, não”, respondeu o cantor.
No dia seguinte, antes mesmo de curar a ressaca, Geraldo procurou o cantor Ciro Monteiro: “Olha aí, padrinho, que beleza de samba”. Ciro achou maravilhoso e o gravou imediatamente. Tempos depois, Roberto Paiva, ao ouvi-lo na voz de Ciro Monteiro, confessou que “aquela beleza
toda era o samba que Geraldo me oferecera”.
Depois da morte do compositor, ocorrida em uma briga de rua com a lendária Madame Satã, em 1955, Falsa Baiana teve mais cinco regravações: do maestro Guio de Moraes e Seu Ritmo, em 1957; Roberto Silva, em 1960; Gal Costa e uma reprise de Ciro Monteiro, em 1971 e João Gilberto, em 1973.
Geraldo Pereira desencarnou novo, com apenas 37 anos, mas deixou um acervo musical considerável e reconhecido, onde se destacam A Voz do Morro (com Moreira da Silva), Acertei no Milhar (com Wilson Batista), Bolinha de Papel (com Raul Longras), Sem Compromisso (com Nelson Trigueiro), esta última incluída no LP Chico Buarque ao Vivo Paris le Zenith, gravado na França, em 1990.
1 29/01/1909 Rio de Janeiro-RJ 14/3/1992 Rio de Janeiro-RJ.
2 Geraldo Teodoro Pereira 23/4/1918 Juiz de Fora-MG 08/5/1955 Rio de Janeiro-RJ.
3 Um Escurinho Direitinho: a vida e obra de Geraldo Pereira.
Ruy Godinho
Roberto Martins, embora também compositor de sucessos, onde se incluem: Leva Meu Coração (com Mário Lago), Cordão dos Puxa-Sacos (com Eratóstenes Frazão) e Meu Consolo é Você (com Nássara), não aproveitou o mote. Foi Geraldo Pereira, quem se apropriou da idéia e criou Falsa Baiana, considerada pelos estudiosos como a constatação definitiva de seu talento criador.
Samba criado, Geraldo Pereira procurou o cantor Roberto Paiva para gravá-lo. Segundo Luís Fernando Vieira, Luís Pimentel e Suetônio Valença3, o cantor estava participando de uma reunião na casa de amigos, quando Geraldo Pereira chegou embriagado, com o violão debaixo do braço, querendo mostrar “o grande samba que acabara de fazer”. Como não conseguia tocar direito, Paiva o aconselhou a voltar pra casa e terminar a música. “Mas o samba está terminado, Roberto!”, gritou Geraldo exaltado. “Então está muito ruim, não quero, não”, respondeu o cantor.
No dia seguinte, antes mesmo de curar a ressaca, Geraldo procurou o cantor Ciro Monteiro: “Olha aí, padrinho, que beleza de samba”. Ciro achou maravilhoso e o gravou imediatamente. Tempos depois, Roberto Paiva, ao ouvi-lo na voz de Ciro Monteiro, confessou que “aquela beleza
toda era o samba que Geraldo me oferecera”.
Depois da morte do compositor, ocorrida em uma briga de rua com a lendária Madame Satã, em 1955, Falsa Baiana teve mais cinco regravações: do maestro Guio de Moraes e Seu Ritmo, em 1957; Roberto Silva, em 1960; Gal Costa e uma reprise de Ciro Monteiro, em 1971 e João Gilberto, em 1973.
Geraldo Pereira desencarnou novo, com apenas 37 anos, mas deixou um acervo musical considerável e reconhecido, onde se destacam A Voz do Morro (com Moreira da Silva), Acertei no Milhar (com Wilson Batista), Bolinha de Papel (com Raul Longras), Sem Compromisso (com Nelson Trigueiro), esta última incluída no LP Chico Buarque ao Vivo Paris le Zenith, gravado na França, em 1990.
1 29/01/1909 Rio de Janeiro-RJ 14/3/1992 Rio de Janeiro-RJ.
2 Geraldo Teodoro Pereira 23/4/1918 Juiz de Fora-MG 08/5/1955 Rio de Janeiro-RJ.
3 Um Escurinho Direitinho: a vida e obra de Geraldo Pereira.
Ruy Godinho
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