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Acendo o meu cigarro na aura dos iluminados
Bato a minha cinza nas fendas escavadas pelos terremotos
Minhas mãos, estourei-as, aplaudindo um poeta patético
Minha língua tem estado estendida desde sempre em todos os templos e jamais sacerdote algum lhe quis deitar uma hóstia
Minha cabeça continua profundamente receptiva à bala fulminante
À luz das velas das encruzilhadas, leio e releio todos os evangelhos
Enquanto demônios derramam cachaça pelas páginas
E despetalam rosas vermelhas nos meus cabelos
Pacifico a atormentada linguagem da urtiga
Umedeço docemente os abrasados lábios dos camelos
Limpo cuidadosamente todos os rastros deixados pelos caranguejos
O café revela-me porque dó se entrega saboroso quando quente
A cerveja revela-me porque só se entrega saborosa quando gelada
O fogo e o gelo, minha amada, são os dois extremos da sabedoria
É necessário chegarmos até onde o fogo e o gelo se tocam?
É imperioso chegarmos até onde o fogo e o gelo se tocam?
É possível chegarmos até onde o fogo e o gelo se tocam?
Ah chegarmos até onde o fogo e o gelo se tocam!
Ai, chegarmos até onde o fogo e o gelo se tocam...
Coloco letra no uivo dos lobos e estabeleço a fantástica parceria
Escorraço um punhal que deslizava sub-reptício para endoidecer-se no meu coração
Provoco o beijo labial entre o beija-flor e o urubu pra que este não desgrace com seu hálito podre as minhas nuvens brancas no céu
Participo do frenesi da folhagem durante os vendavais
Participo do frenesi do pranto durante os funerais
Participo do frenesi do alcoólatra diante dos canaviais
Participo do frenesi de Lúcifer diante das chamas infernais
Sou cenoura e me entrego róseo no banquete da aurora
Sou tomate e me entrego rubro no banquete do crepúsculo
Sou esmeralda e me entrego verde no banquete dos vaga-lumes
Do ponto de vista do silêncio a morte é uma obra-prima
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sábado, 20 de junho de 2009
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