quinta-feira, 25 de junho de 2009

ENTREATOS - Pactos e acordos

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Recebeu a ligação:


– Me tira daqui, por favor, me tira daqui.

Ouviu o amigo com quem tinha pactos e acordos em vida e na morte. Foi o mais rápido que pode, mas não chegou a tempo, a dor no peito fora-lhe fatal.

Chorou muito, no hospital, durante todo o tempo em que esteve sozinho, depois quando apareciam as pessoas mais chegadas; lágrimas rápidas, tristeza e as providências.

As cinzas colocadas no vaso no centro da sala, a música ambiente, um cão solto da coleira, andando pra lá e pra cá com os olhos tristes e indiferentes contemplando a desolação do ambiente e um resto de solidão sobrando entre as conversas.

Na mesma noite, começou a cumprir o prometido e levou a pequena urna para o bar. Foi uma tristeza boa de sentir; houve homenagens, choros, alguém fez uma saudação no microfone; o garçom descontou uma garrafa da conta, foi uma noite emocionante e até feliz.

Na segunda vez, levou no mesmo bar; o impacto da ausência já se perdera nos dias passados, mas quando foi servido o primeiro copo sentiu a presença da solidão, era ele como de corpo presente.

Cumprir o pacto nunca deixou de cumprir, mas todas as vezes que levava as cinzas para beber, fosse em qualquer bar, sentia um vazio; era o jeito de solidão do amigo bebendo junto, tocando sua alma.

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MQ
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