segunda-feira, 29 de junho de 2009

ORAÇÃO DE FLORESTA E RIO - VENTRE CABANO

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tudo por fazer
na terra nova
encontrada aqui

tudo por entender
do braço índio
nascido aqui

vida viva
de vencidos e vencedores
vivendo livre
sobejando aqui

encontro das culpas seculares
aprendidas de joelhos
e mãos postas em armas
com a vida viva nascida aqui

contrição e a rubra mordaça
desnudada nas batinas

entalhes lúbricos
resultados sem lavor
traço negro trazido à força
para empenho e labor

vida viva
mutilada da altivez
restada nos porões
pútridos do estanco

manumissão de libertos
juntos
calados e misturados
às conquistas que o deszelo
cobriu com hipocrisia
sobrepondo lenitivo à vida

do braço índio cativado aqui
do braço negro exilado aqui
do braço branco renascendo aqui

verdade mestiça de dores
esparramadas em subserviência
findando no descaso com a terra
que se fingiu descobrir

o gentio se misturando
mesmo curvado
quimeras prenunciando salvação
imitando de mão em mão
um deus
um rei

mas sonhos podem ter
as mãos quando ganham
os espertos com seus grilhões

mas sonhos podem ter
as mãos quando tocam
a verdade nos sonhos
de outras mãos e somam
a escolha da liberdade
de mão em mão

óbolos de fel que põem
solenemente acima
falsos e vazios
circunspectos sujigando

em leis que moem
e subtraem apenas
estugando o ódio

nas entranhas
da morte em cal
sangue e fezes
embriagados na loucura
dos boticários
punindo em vão
segregando o respeito

dor
adornada de dor
adonando todos
desencadeando vala comum
e rasa do penacova

valimento dos restos
de menos valia
rompâncias e sujeição
assomados nas ruas

iniquidade torturando
calma e silêncios
no ecôo da concertina
no sibilo das balas

polução
na calma da noite
na soberba das alforrias

cordura com os atos
exéquias pequenas e tristes
nos arrabaldes do sonho
mourejados
só com a vida

cabedal que se doa
com zelo, sem datação

ressôo de bombardino
sibilo das ordens
entrando pelas gelosias
das janelas abandonadas
pelos senhores intolerantes

sobrecarga da ira

no gentio apartado
vagando erradio
pelos mocambos
deixando rastos
imperceptíveis
nos bivaques e caminhos

no negro amolegado
pela chibata
homiziado nos quilombolas

no branco tocado
pela liberdade sem laços
rompendo desígnio

detração pelos adros
e palácios como vômito
no linóleo impregnado

o esgar dos brasões
enrijecendo a verdade
pelas ruas e caminhos
espalhando a vontade
o gesto
lesto
esmiuçando os arredores
até o suburgo na beira do rio

onde folga homens
embaixo d´um pau copado
deslindando seu relato
parte por parte
para entender melhor
o dédalo das leis promulgadas

postergando e emudecendo
o ventre tenro
onde a liberdade
queria nascer

.
MQ
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