domingo, 28 de junho de 2009

ALINE DE MELLO BRANDÃO

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ARAMANAÍ AÍ PARANATINGA

Campissajé: a noite,
Vem beber da conversa.
Mais um junho e a perversa
Ergueu a madrugada
Não sei se para um rio
Nem sei se para um céu,
Sei bem que fez-se luz
Para um filho de Ogum
E um anjo imaginário
Vagava em liturgias
No bar onde bebias:
Soberba, a cobertura,
Um átrio de ternura
``overture`` de ausências,
descortinadamente,
balés e bailes longos,
adegas, ibatingas
maltes mbaranás
servidos por Elias
no velho bar do parque.
Brindemos ao quiosque,
O desavergonhado
Local onde pessoas
Chegavam-se a ti,
O nosso Nheenguiyara,
Do lume (ataendy).
Rio bom (rio catujy).
Tapequê, o caminho
Desabrigou, do ninho,
A saudade, esse vinho
Rascante – guatiabara.
Chamou-te: aracamã,
De seda, quatiamã,
Escreve momaenduara!
Com Norma, a companheira,
Desata a voadeira
Para Aramanaí.
Toma outra saideira
Junto a catuari,
Que uma filha de Oxum
Sonhou com tempo bom
Acendendo a manhã
E, abrindo passagem:
Ruy, pai ararangaba,
Jimboeçara, mestre...
Ruy, paraná oiké...
Ruy, paraná rupi...
Rayú, royu, pay`tinga
Aí Paranatinga.
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Do Tupi-Guarani:

Campissajé: noite fechada.
Ibatinga: o céu limpo.
Mbaranás: rio caudaloso, semelhante ao mar.
Nheenguiyara: senhor da palavra.
Ataendy: labareda, lume.
Catujy: rio bom.
Tapequê: caminho silencioso.
Guatiabara: aquele que escreve.
Aracamã: nome de um monte da Amazônia, o peito alto do mundo.
Quatiamã: o livro.
Momaenduara: recordar.
Catuari: árvore dos igapós do rio Amazonas.
Araraangaba: a medida do dia.
Jimboeçara: mestre.
Paraná oiké: enchente da maré.
Paraná rupi: pelo mar.
Rayú: o mesmo que ayú, veia.
Royu: dar de beber água.
Pay´tinga: amo, senhor.
Aí: mano, irmão.
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