.
A senescência morava no corpo. Não tinha família e só lembrava, vagamente, da infância passada perambulando e da solidariedade marginal; não sabia ler nem escrever. Vivia nas ruas catando papel velho e explorando lixeiras. A única vida que conhecia resumia-se em ganhar os trocados para a comida e a bebida.
Sonhos, nem sabia o que eram, mas olhava as figuras impressas no papel que catava e tinha o vício de ficar por horas a fio tentando desvendar se elas estavam com fome ou não.
Um dia, passando pela frente da casa, viu a modelo entrar, com a fisionomia cansada de um dia inteiro de trabalho. Um mês depois, colaram a fotografia pela cidade inteira. A campanha publicitária estava nas ruas. Ela estava linda, magra e seminua.
Ao ver a moça estampada em todos os lugares, lembrou-se onde a vira entrar; desse dia em diante, de toda a comida que conseguia arranjar separava a metade, embalava com o que tivesse à mão e deixava na porta da casa da modelo.
.
MQ
.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário