terça-feira, 18 de maio de 2010

MARCO ANTONIO QUINAN - ESTAVA LÁ

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Estava lá, parado, olhando pra mim, fitando cada detalhe da minha expressão, me vigiando acintosamente, somente esperando que eu me manifestasse, uma resposta, desaprovação, chilique, quietinho, não sei se branco de medo em relação a minha reação, esperando que eu emitisse algum som de desaprovação, que me deixasse vencer pela ira ao lê-lo, e me olhava, de cima até em baixo, incomodando meu silêncio, meu precioso tempo, e era raro isto acontecer, perder a estribeira, ser vencido por tão repugnante palavras, jogar a toalha assim sem mais nem menos e entrar numa raiva que não era minha, que não deveria ser, e embora toda regra está sempre sujeita a exceção, quando percebi não pude fazê-la valer, contradizendo incondicionalmente a afirmação por não conseguir suportar muito tempo nem impedir, como se toda raiva imbuída no mais sereno dos mortais não fosse suficiente para suplantar o que estava querendo dizer, a não ser que eu fosse capaz de redobrar visceralmente a paciência e tentar renovar cada sentimento ou pensamento ruim que afete a busca do “conseguir vencer com todas as honras” calando a vontade de gritar e bradar para cada espaço vazio deste sobe e desce incessante de pessoas de papo climático, sem idéia melhor na cabeça a não ser reclamar de uma vida a qual mal pertencem, e que fenecem diariamente `a inconseqüência de seus atos, de suas menções negativas, por serem mesquinhas, não-coletivas, inúteis, sem a maior qualidade que existe no ser, enquanto humano, que é de vivenciar a vida, com todo o torque, potencializando cada passo e atitude, ceifando e engolindo ansiosamente o conhecimento regente de toda existência da vida, o amor, a compaixão, o conhecer os outros mais do que um “superficialmente”, e não o simples e barato argumento afetivo que algumas pessoas utilizam para sobreviver, contudo o verdadeiro pilar vigente em todos os segundos do respirar, dizer, sentir, velar, querer, dispor, amar, fazer, redimir, e calar do homem, que mesmo raça burocrática e que não se entende, pode inserir, num lampejo de consciência, como qualquer outra busca, a tentativa de se erguer frente a adversidades, resignificar, aceitar, evoluir e sorrir, em mais uma oportunidade de poder ter novas relações interpessoais, mais que um “bom dia” e “boa tarde”, algo único, casual, ou pra sempre, mesmo quando ele está lá branco, parado, olhando pra mim, dizendo em Arial fonte 12: “Reunião de Condomínio”.


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