quinta-feira, 29 de abril de 2010

IÊN E ZU MUNDUCU / CEGO BOCOVÓ - COLHO CURA (SERTÃO DO REINO)

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iên e zu munducu / cego bocovó
sérgio souto / joãozinho gomes / marcos quinan

quando viu veloz o salto
no sombrio e denso mato
pensou um bicho imenso
uma onça ou um macaco

foi pisando em silêncio
ao encontro do entocado
entre dois olhares tensos
revelou-se o achado

no feitiço do momento
olhos negros mundiados
enxergaram-se por dentro
visionários aliados

quatro mãos em movimento
dois destinos enlaçados
um a chuva o outro o vento
caminharam lado a lado

espalharam pensamentos
dividiram e somaram
impuseram ensinamentos
aos dali e aos que chegaram

era o abaribó nascendo
do entendimento raro
de dois homens parecendo
duas sinas que se acharam

cego bocovó prevendo
com seu olho inflamado
o presente desfazendo
tudo que fez no passado

estalos de febre ardendo
no mormaço abafado
sua cegueira batendo
num navio fundeado

passou a vida vendo
no caminho escurejado
o abaribó crescendo
com um jesuíta ao lado

nessa mistura o fadário
de valentia e mistério
a igualdade trazendo
na liberdade o temário

voz e violão: sérgio souto
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