quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

RUY GODINHO – ENTÃO, FOI ASSIM?

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ANNA JÚLIA
(Marcelo Camelo)

Quem te vê passar assim por mim
Não sabe o que é sofrer
Ter que ver você assim
Sempre tão linda
Contemplar o sol do teu olhar
Perder você no ar
Na certeza do amor
Me achar um nada
Pois sem ter teu carinho
Eu me sinto sozinho
Eu me afogo em solidão
Oh Anna Júlia!
Nunca acreditei na ilusão
De ter você pra mim
Me atormenta a previsão
Do nosso destino
Eu passando o dia a te esperar,
Você sem me notar
E quando tudo tiver fim,
Você vai estar com um cara,
Um alguém sem carinho,
Será sempre um espinho
Dentro do meu coração
Oh Anna Júlia!
Sei que você
Já não quer o meu amor,
Sei que você
Já não gosta de mim
Eu sei que não sou
Quem você sempre sonhou,
Mas vou reconquistar
O seu amor todo pra mim
Oh Anna Júlia!
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Então, foi assim...

Alex Werner, produtor da banda carioca Los Hermanos1 é um sujeito tão tímido, mas, tão tímido que, se sua timidez não virasse música, viraria folclore. Menos mal que virou música: Anna Júlia.

Quem revela é a própria musa em entrevista à revista Marie Claire2: “Conheci o Alex na faculdade. Ele fazia Direito e eu, Jornalismo. Achei ele gatinho e fui conversar, mas a gente acabou não ficando porque ele era tímido. Eu tentava conversar e ele ficava nervoso. Foi passando o tempo e, de vez em quando, ele mandava recados pelos meus amigos. Eu nunca
tinha falado com ele direito, então a gente se cruzava na faculdade e não parava para conversar. Era uma situação chata”.

Se, por causa de sua timidez aguda, Alex não conseguia nem conversar, imagina outras coisas tão boas quanto. Mas, aos poucos, o rapaz teria progressos. Mínimos, mas teria.

“No final de 98, eu fui para a Europa de férias”, relembra Anna. “No dia da viagem, ele apareceu na minha casa e me levou uma flor. Achei muito bonitinho. Mas ele chegou quatro horas antes de eu ir para o aeroporto e eu ainda não tinha feito as malas... Foi nessa época que um amigo me disse que os garotos da banda tinham feito uma música para mim. Pensei
que ia ser algo me xingando, do tipo ‘Ô, garota, se toca! Deixa de ser besta e fala com meu amigo!’ ”

Quem se condoeu com aquela situação foi o vocalista da banda, Marcelo Camelo3, que resolveu fazer a música para ajudar o amigo a conquistar a garota da faculdade. “É uma canção sobre o amor de quem contempla, o amor do observador”, argumenta Camelo4, que a compôs sem a menor pretensão de gravá-la. Mal sabia ele que a ingênua balada, tempos depois, acabaria na boca do país inteiro, levando a Banda Los Hermanos a conquistar o disco de platina.

A homenagem causou surpresa em Anna Júlia. “Começaram as aulas e encontrei o Alex com o [Rodrigo] Barba numa festinha. Barba me convidou para o show seguinte da banda. Eu disse que não dava, já sabendo que iria. No meio do show, escuto o Marcelo falando: Anna Júlia, esta música é para você. O lugar estava muito cheio e a acústica não era boa, entendi muito pouco da letra. Eu ouvia Anna Júlia, Anna Júlia e ria nervosa. Pelo menos fiquei sabendo que não estavam me esculachando. Quando o show acabou, fui agradecer, mas não falei mais do que isso com o Alex. Nunca conseguimos conversar direito. Sempre acontecia alguma coisa para atrapalhar.”

E os progressos continuariam na vida de Alex, tímidos, mas significativos.

“Até o dia em que ele me ligou, dizendo que queria me ver. Foi em casa, super nervoso. Finalmente, acabamos ficando. Foi a única vez”, revela impiedosamente Anna.

Mas, até aí, o psicanalista – se Alex o tivesse - estaria satisfeito com os progressos.

“Um dia, o Alex me trouxe o single na faculdade. Você não tem noção do tamanho do negócio até ver seu nome na capa do disco. Em casa, quando pus para tocar, a voz do Marcelo era tão doce que comecei a chorar. Acho que a letra tem bastante o lado do Alex, fala mais do que ele via em mim. Na primeira vez em que ouvi a música no rádio, a locutora disse: ‘Anna Júlia, o que você fez?’ E eu pensando: Nossa! Esta sou eu!”

Anna Júlia foi gravada no CD Los Hermanos (1999), da Abril Music.
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1 Banda criada em 1997, por Marcelo Camelo (voz), Rodrigo Amarante (guitarra, flauta transversal e voz), Bruno Medina
(teclados) e Rodrigo Barba (bateria).
2 Edição de novembro de 2000.
3 04/02/1978 Rio de Janeiro-RJ.
4 Também em entrevista à revista Marie Claire, edição de novembro de 2000.
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Ruy Godinho
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