segunda-feira, 29 de agosto de 2011

2ª Bienal Internacional de Poesia é cancelada por falta de dinheiro

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A tragédia começou no ano passado, quando o diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, Antonio Miranda, precisou desconvidar os convidados para a 2ª Bienal Internacional de Poesia (BIP). Ontem, Miranda foi à casa de Ferreira Gullar, em Copacabana (Rio de Janeiro), para a segunda leva do desastre: a bienal que havia sido transferida para a segunda semana de setembro foi novamente cancelada. A Secretaria de Cultura não liberou o orçamento de R$ 1,5 milhão para a realização do evento.

Desta vez a desculpa é o investimento em um projeto maior, o Plano do Distrito Federal do Livro e da Leitura, lançado há duas semanas na mesma biblioteca que receberia a bienal. “O que ocorre é que houve atrasos na produção dos processos e falta de orçamento. Acabamos tendo que priorizar e, como vamos fazer um investimento significativo no plano do livro e da leitura no ano que vem, tivemos que optar”, justifica Hamilton Pereira, secretário de Cultura.

O cancelamento é contraditório no ano em que o Governo do Distrito Federal pretende implantar uma política do livro para a região sob o slogan de “Brasília, capital da leitura”. A segunda edição da bienal contou com quase três anos para ser preparada e já tinha lista de mais de 60 convidados. O próprio Antonio Miranda mandou carta pessoal para cancelar os convites. “É deprimente. E a gente não sabe nem por que foi cancelada. Apesar do tumulto na política no ano passado, o planejamento poderia ter sido feito. É uma pá de cal sobre o evento. Acho que não faz sentido marcar outro”, lamenta Alexandre Marinho, um dos desconvidados.

Apesar dos três anos de suposto planejamento, a organização da BIP não desenvolveu estratégias para contornar a falta de recursos. “Não conseguimos captar”, alega Miranda. “Estava todo mundo convidado, mas no último momento não soltaram o dinheiro.” Realizada em 2008, a 1ª Bienal Internacional de Poesia também correu risco de não acontecer. A poeta Angélica Torres Lima, que participou da organização da primeira edição do evento, lembra que a salvação veio de um financiamento da Petrobras. “Foi uma coisa heroica, mas conseguimos, sem dinheiro, com poucos recursos.”

A 2ª BIP estava entre os eventos prometidos por Hamilton Pereira no início da gestão. O secretário também anunciou, no ano passado, a intenção de fazer uma Bienal do Livro. “Essa está mantida para abril”, garante. “Mas é preciso entender que não estou cancelando uma política, estou cancelando um evento. É preciso fazer escolhas.”

Para o poeta Nicolas Behr, a escolha não surpreende. “Não foi falta de dinheiro. Não quiseram é gastar o dinheiro que tinham. O Estado acha que cultura é espetáculo. Dinheiro para show na Esplanada tem, e muito mais que R$ 1,5 milhão. Acho que tem que ter os dois, mas poesia não tem repercussão, né?!”. O escritor Ronaldo Cagiano, que viveu em Brasília durante 28 anos e hoje está radicado no Rio, acompanhou a organização da primeira bienal e não entende como um evento planejado durante dois anos morre na praia. “Depois de mais de dois anos de preparação, dedicação e mergulho nesse projeto, tendo sido construída uma pauta de eventos e discussões, confirmadas presenças de escritores nacionais e estrangeiros, vemos o trabalho do escritor Antônio Miranda e sua equipe esvair-se pelo ralo, por culpa e obra da irresponsabilidade, da insensibilidade e da alienação do senhor secretário de Cultura”, escreveu Cagiano, em carta de indignação enviada a poetas e escritores de Brasília.

A feira
Sem Bienal de Poesia, só resta a Feira do Livro, programada para novembro e ainda uma incógnita. A três meses do evento, a Câmara do Livro do Distrito Federal não conta com repasse de verbas públicas e está em busca de patrocinadores. Também não há nomes confirmados entre os convidados, embora esse tipo de acerto costume ser feito com muitos meses de antecedência, caso se queira a presença de autores célebres, cujas agendas são apertadas. Íris Borges, curadora do evento, garante que a feira não depende do dinheiro das secretarias de Cultura e Educação, que normalmente contribuem para o orçamento. “Ela tem condições de acontecer. Mas queremos sim o apoio e a presença do governo, mesmo não tendo repasse de recursos.”

Alguns estandes já foram vendidos para os livreiros da cidade, mas a Câmara ainda não decidiu quem será o escritor homenageado, tradicionalmente responsável pela abertura do evento. “Não queremos alardear quem vem ou não para não passar por uma situação como essa (da BIP)”, explica Íris. A 30ª edição da feira ocorrerá no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade com orçamento de R$ 2 milhões. A edição de 2010 correu o risco de não acontecer. Realizada às pressas, não conseguiu montar programação expressiva e contou principalmente com livreiros do mercado de livros técnicos. Houve pouca literatura na 29ª Feira do Livro. Um evento pífio para as dimensões de Brasília.

Via Correio Brasiliense
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