quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Último instante
.
Não olhe meu dia, Maria
É luto mesmo o que escorre
Pelas veias cheias de ausência
Nem olhe a minha morte, Maria
Porque ela vem acontecendo faz muito tempo
Não repare, Maria
É minha tristeza que costura a alma ao corpo
É nela que debruço, choro vida
E deposito a saudade que sinto
Do momento de alguma plenitude
É assim, insistentemente...
Como se os sentimentos seguissem o enterro
Perdôo, Maria
Se alguma verdade faltou na sua boca
Também desdobros seguem cortejos
Seus deuses, meus demônios acompanham
Falantes como poderiam ser esses seres inexistentes
Seguem renques, prosa aberta
Com meus medos, certezas
Possibilidades e muitas mordaças nas mãos
Se porventura, Maria
Enxergar poucas lágrimas
Poucos olhos marejados
Ligue não, Maria
Vim morrendo todos os dias
Pelos caminhos que fui apagando ao passar
Escolhi por arbítrio como sangrar
Os últimos restos da inquietação
E calei meu corpo diante do seu
Se lá estiver, Maria
Em minha carne ainda haverá alma
E nenhuma mágoa
Quando se der o instante
Deixarei sair de dentro de mim
Mas lhe peço, Maria
Não enxugue meus olhos
Porque a derradeira tristeza
Precisará ainda chorar
.
MQ
.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário