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Eu estava no Credicard Hall naquela noite e, admito, fiz coro com a multidão que vaiava o moço que, tímido e aturdido, tentava entoar os belos versos de sua ieieiística Tudo Bem Meu Bem. No meu caso, as vaias eram por motivos tendenciosos, que nada tinham a ver com a questionada qualidade da campeã. Eu vaiava porque torcia pra Xi - De Pirituba a Santo André, dos amigos e parceiros Rafael Alterio e Kléber Albuquerque, que tinha ainda na banda de apoio, entre outros, meu brou Élio Camalle. Mas o moço não estava nem aí. Com garra (e certo ar blasé) defendia sua canção e seu direito aos muitos reais que o primeiro lugar lhe conferia. Ah, refiro-me ao pomposo Festival da Música Brasileira, realizado pela Rede Globo em 2000. O nome do moço: Ricardo Soares.
O tempo passou, e um dia fiquei sabendo que Ricardo Soares (RS, como seu Estado) entrara na RSMB (leia texto sobre Adolar Marin). Tempos depois o conheceria pessoalmente num show coletivo dessa rede e poderia rever meus (pre)conceitos a respeito do moço. Naquela ocasião ele apresentou, se não me engano, três canções. Confessara-me pouco antes que passara dias ensaiando pra não fazer feio ali no palco do falecido Crowne Plaza (repararam como todas as boas casas de Sampa estão fechando?). Afinal, eram rocks compostos pra apresentação com banda, e no Crowne ele tinha a companhia apenas de sua pobre (mas honesta) guitarra. As melodias me pareceram, à primeira audição, passáveis; o intérprete tinha um quê de canastrão; mas a qualidade das letras era inegável. Eu via ali em ação um compositor em formação (desculpem o eco).
No regulamento do festival da Globo constava que o compositor da canção vencedora, além do prêmio em dinheiro, teria direito à gravação de um disco a ser lançado pela Som Livre. O disco nunca saiu, os motivos nunca vieram a público. A Globo deu a impressão de ter dado um tiro no próprio pé ao não abrir espaço em sua programação aos artistas ali revelados (revelados?). Já nosso herói, impedido de ter suas outras canções descobertas pela massa, encontrou no palco (muito menor, mas muito mais caloroso) do Caiubi o que procurara no do Credicard Hall: público! E foi lá que nos reencontramos. Pois RS deixara a RSMB e eu acabara perdendo contato com ele. Quando o revi no Caiubi, o cara era outro. Seguro de si, com canções maduras, letras cada vez melhores e uma presença de palco de encher os olhos. O tempo transformara a pedra bruta em pérola. Eu mal podia crer que se tratava da mesma pessoa. Pensei com meus botões que, se por um lado a não-gravação de seu disco foi uma injustiça, por outro deu-lhe tempo pra, longe dos holofotes, crescer enquanto, digo, como artista. No mais, não sei realmente se o possível contato dele, ainda verde, com o enfurecido público do Credicard Hall, multiplicado por milhões Brasil afora, não lhe iria ser menos benéfico que maléfico. Viu morrer a chance de se tornar um pop star, em compensação teve tempo, paz e tranquilidade pra depurar sua arte.
De lá pra cá já assisti a alguns de seus shows e posso afirmar que RS é um daqueles (raros) artistas a quem pouco importa se tem pela frente dez pessoas na plateia ou dez mil. Cada apresentação sua é feita com o gás de quem disputa uma final de Copa do Mundo. Diria mesmo que, quando ele fecha os olhos e ouve o público cantar a plenos pulmões "todas as minhas lágrimas correm pro mar/ por isso que o mar é salgado, meu amor/ de tanto eu chorar", seu espírito se eleva e ele se sente como se estivesse no Rock'n'Rio. Seu sorriso feliz e maroto deixa quase transparecer esse segredo, pois ali, o palquinho de 3x4 m toma outras dimensões.
RS vem da escola de outro RS - Raul Seixas. E de Leonard Cohen. E de Dylan. E, por que não?, de Adoniran. É um cantador de histórias. Vale-se da melodia como ferramenta de seus cantos/contos. Por isso, não acredita em muitos acordes. Repete os mesmos de sempre, com poucas variações, e alcança resultados inacreditáveis. Pensando a respeito do que acabo de afirmar, posso acrescentar ao time acima escalado o Rei, Roberto Carlos, a quem ele até já citara em sua consa(n)grada Tudo Bem Meu Bem: "Eu era um Rei sem Erasmos/ eu era o marasmo de um jogo sem gols/ você me trouxe o tango, o bebop, o mambo, o rock'n'roll". Convenhamos: bom gosto não falta nesses versos.
Sou parceiro de RS em duas canções, o que pra mim já é uma vitória, pois o moço se garante com suas próprias letras. Zé Rodrix, seu grande admirador (e divulgador) teve que praticamente lhe assaltar uma letra pra virar seu parceiro. E (glória maior) chegou mesmo a cantar uma canção dele, RS, no show que fez que viraria DVD e não chegou a sair. E ter o Rodrix como admirador conta muitos pontos em favor de qualquer artista. O que lhe tira pontos, em minha opinião, claro, é essa cabeça dura canceriana que não o deixa fazer mais as vezes de letrista mesmo e explorar sua poesia em melodias alheias. Eu adoraria ouvir o resultado de tais experimentos. Um exemplo disso é o fato de que alguns de seus maiores sucessos são parcerias com outro hitmaker: Sonekka. Mas cada artista tem seus motivos e barreiras. Deixemos que o tempo, que o tem tratado bem, cuide do assunto. Por ora, basta a nós outros, poucos privilegiados, poder vê-lo de perto em seu Rock'n'Rio particular, o Caiubi (por ora residindo no Bagaça). Tomara que não lhe baste!
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Ouça algumas das fortalezas de RS aqui - http://clubecaiubi.ning.com/profile/OXdoPoema
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Leia as letras aqui -.http://clubecaiubi.ning.com/profiles/blogs/ricardo-soares
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RS também está no Caiubi - http://clubecaiubi.ning.com/profile/RicardoSoares
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Por Léo Nogueira
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domingo, 6 de fevereiro de 2011
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