segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ninguém me Conhece: 33) As Boas Ações de Ricardo Moreira

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Se a alma de Ricardo Moreira (quando este vier a morrer – toc toc toc, bate na madeira!) não se salvar, o céu vai perder pro inferno por W.O., pode escrever aí. Vai fechar por falta de clientes. Pense num cabra do bem. Mas eu tô falando do bem MESMO. Não como esse bem atual, politicamente correto, do qual só faz parte gente interesseira, falo do bem anterior aos holofotes, o bem puro, natural, inerente à pessoa. Moreirinha é tão do bem, que até seu lado mau deve ser bom. Fosse ele um ladrão, seria Robin Hood.
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Mas este texto não se propõe a ser uma carta de referência pra futuros empregos, mesmo porque, ao que me consta, ele vai muito bem, obrigado, na função de professor (aliás, como eu, é letrista profissional - formado em letras). Apenas achei interessante frisar mais essa qualidade, visto que no meio musical nem sempre talento rima com caráter. E o moço acima possui ambas características. Contudo, comecemos pelo começo. Conheço Ricardo Moreira há tantos anos, que nem me lembro ao certo quando o vi pela primeira vez. Ele, organizado que é, deve sabê-lo. Creio que nos conhecemos por meio da RSMB (veja texto sobre Adolar Marin... Acho que já escrevi isso antes...). Lembro-me de que, na época, ele fazia parte de uma banda chamada Salada Mística. Contou-me ele que a origem do nome surgiu de um fato pitoresco. Antes de contar o fato, devo acrescentar que Moreira é praticamente um trocadilho ambulante. É daqueles que perdem o amigo, mas não perdem o trocadilho. Presenteou-me, certa vez, um livreto de poemas/letras, xerocado e encadernado, cujo nome era, se não me engano, Em Vértices, os Papéis. Sacaram? "invertem-se os papéis". Pois é. Voltando ao chiste: Moreira me contou que, quando trabalhava na Ford (ou seria na Volks? Na Chevrolet?), em São Bernardo - cidade onde nasceu e onde vive até hoje -, um funcionário, desses bem humildes (não sei por que chamam aos pouco escolados de humildes, conheço alguns que de humildes não têm nada), foi pedir uma salada mista e soltou a pérola: "Me vê uma salada mística". Moreirinha, com o germe da criatividade ativo, guardou a frase, sabendo que no futuro poderia vir a aproveitá-la. Quando montou sua banda, entre tantos possíveis nomes, este foi o que se sobressaiu. E acho que resume mesmo a banda.
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Trocamos CDs (eu lhe entreguei o primeiro da Kana) e também uma série de e-mails, nos quais discutíamos os aspectos positivos e negativos que encontráramos na obra do outro. Pelo que me lembro, devo ter sido, digamos, excessivamente rigoroso com seu CD, aliás, da Salada Mística, Batom no Colarinho. Afinal, quando me pedem pra escrever a respeito de um CD, sinto-me confortável na função de pedra (já na de vidraça...). Ele já se mostrou mais benevolente comigo. Pouco tempo atrás, inclusive, resgatou alguns daqueles e-mails, alguns dos quais escritos no Japão, quando de minha primeira viagem à terra do sol nascente. Relendo-os, acometeu-me certa vergonha, pela petulância das palavras por mim escritas. O fato é que talvez eu quisesse dizer que ele, embora estivesse verde, era um bom compositor, e a tendência era, naturalmente, evoluir. O que minha condição de crítico de obra alheia não me fazia enxergar era que eu também (talvez mais que ele) me encontrava nessa fase verde (atenção, não estou falando de política, certo?), o que foi detectado na época por meu primeiro parceiro, Élio Camalle.
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Como disse, Ricardo Moreira é de São Bernardo, mas seu sotaque acaipirado parece vir de muito mais longe, e vejam vocês que a manutenção de tal sotaque até hoje também é fator relevante acerca de sua personalidade humilde (acho mesmo um fator excessivo). Tanta humildade esconde um cara que é até boa pinta, mas que acaba parecendo inofensivo. Mas pode ser também um método desenvolvido pra evitar cenas de ciúmes da patroa. Afinal, de perto ninguém é tão inofensivo assim. E o artista tem que se precaver. Mas o fato é que sucedeu que a banda Salada Mística teve vida curta. Parece-me, puxando pela memória, que seus demais membros não apostavam lá muitas fichas na carreira artística, de modo que Moreirinha, sem a salada, ficou só com a mística. O problema era que, na banda, ele era o baterista-compositor (às vezes, gaitista), agora, só, tinha que fazer as vezes também de cantor/violonista, no intuito de mostrar sua cara/obra. E, digamos que, nessa nova função, ele não se via tão confortável. Mas aí veio o Caiubi, ou melhor, Moreira foi ao Caiubi. E, lá, o que não lhe faltou foi parceiro. Assim, ele desenvolveu acima das outras sua faceta de letrista.
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Um de seus mais ardorosos fãs é ninguém menos que Fernando Cavallieri. Ah, agora me lembrei, foi Cava quem nos apresentou e quem primeiro me falou do moço da gaita. Falava de forma tão apaixonada, que eu ficava até com ciúmes. Chegou mesmo, certa feita, a compará-lo (o que achei exagerado na época) a Chico Buarque. E foi justamente Cava quem registrou em CD uma das mais belas canções de Moreira, Nostalgia. Mas a bateria o chamava sempre de volta (refiro-me ao Moreira), e foi como baterista (e compositor) que ele participou dos saudosos Tropeçalistas, grupo que contava com nomes como Zé Rodrix, Vlado Lima, Ricardo Soares e Sonekka. Vi alguns shows memoráveis do grupo. O engraçado era que, apesar de ser uma banda de solistas, as apresentações eram ótimas. Era meio como ver jogar um time só com camisas 10. Depois veio o Tonq (Tosqueira ou Não Queira), este, um tanto mais debochado. Não à toa um de seus líderes era (é? Me parece que a banda está na ativa ainda, diz aí, Ayrton!) Ayrton Mugnaini, ex-Língua de Trapo.
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Recentemente Moreira enveredou pela arte dos clipes caseiros. E não é que o moço leva jeito? Tem uns que parecem ter sido feitos por profissionais (ai!). De quebra, é mais uma ferramenta pra divulgar suas tantas canções. Vão no youtube e procurem por "Ricardo Moreira". Vão achar muita coisa boa lá. Parece que ele até está cantando melhor. Minhas ressalvas em relação a suas canções, quando de nossas trocas de e-cartas, dirigiam-se mais a suas melodias. Moreira vem da escola do blues, e às vezes eu ficava pensando que a melodia não estava à altura da letra. No Caiubi ele teve a felicidade de compor com craques como Sonekka e Cavallieri, entre outros, e tal parceria lhe fez bem, pois hoje em dia ele tem criado melodias muito inspiradas também. Acho que a maior lacuna em sua arte de letrista consiste em não se atrever a letrar melodias. Moreira cresceu com a geração dos melodistas que musicam letras, daí não desenvolveu esse outro exercício, bem diverso, que é o de letrar melodias. Já lhe disse que o mais difícil é se atrever. Perdem-se algumas no percurso (lembram-se da frase manjada "não se pode fazer uma omelete sem que se quebrem alguns ovos"?), mas, depois de pegar a mão, a coisa flui. Zé Edu que o diga, com suas belas canções com Gulherme Rondon, por exemplo. Mas, cada um na sua. Acho que pedir pra Ricardo Moreira letrar uma melodia é meio como pedir pra Ricardo Soares compor uma bossa nova. Como diz o clássico, cada um no seu quadrado. Assim a canção desce redonda. Ai!
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Mas Ricardo Moreira tem também muito desenvolvido seu lado "professor Pardal". Sobram-lhe ideias. O que lhe falta é grana pra fazê-las sair do papel. De tempos em tempos aparece ele com uma recém-nascida (ideia). Não faz nem duas semanas, ele escreveu pra mim e pra mais uma turma de compositores, expondo-nos uma nova ideia genial. Em princípio, todas parecem muito boas. Depois, os e-mails vão rareando, até que o moço sai de circulação por um tempo, até, qual fênix, ressurgir das cinzas com uma outra revolucionária. O cabra é tão bom no quesito, que, dizem as (boas) línguas, foi convocado por
Sonekka e Alexandre Lemos a encabeçar (cabecear?) uma gravadora (Sonarts) que estes estão concebendo, que irá abalar o mercado (mercado?). Tô botando fé nessa ideia atual. Será que é dessa vez, Moreirinha?

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Ouça algumas das boas ações de Moreirinha aqui

http://clubecaiubi.ning.com/profile/OXdoPoema

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Leia as letras aqui

http://clubecaiubi.ning.com/profiles/blogs/ricardo-moreira

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Moreirinha também está no Caiubi

http://clubecaiubi.ning.com/profile/RicardoSMoreira

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Por Léo Nogueira

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