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João mais Durvalina chegaram na boca da noite. Mal apearam já souberam do convite para batismo. A alegria foi comemorada na mesa, ao redor da panela de arroz com galinha.
Depois do café:
- Lila descansa no mês. Dona Custódia já chegou prá apará.
- Agora é home, né cumpadre?
- O que Deus mandá. Peço que leve os nome e, quando nascê, mando recado se é home ou muié, e o cumpadre rigistra cum o Climério, no cartório. Quando nóis for batizá, i’eu pego o papel.
E escreveu num papel:
Noemi
Isidoro
Gonçalves
- Se for muié, Noemi Gonçalves e se for home, Isidoro Gonçalves. Entendeu?
- Pois sim, cumpadre.
O mês passou depressa e, no dia 24, nasceu o menino. Dia de muita alegria para Tiburço, era homem.
No mesmo dia que o umbigo caiu, passou Baldino com sua mulada.
- Avisa o cumpadre João que nasceu e é minino. A Lila passa bem e, no cumeço de maio, vamo p’ro batismo.
Foi o positivo.
Baldino deu o aviso, mal chegou à rua. João imediatamente bateu na casa de seu Climério, para o registro. Entregou o papel amassado com os nomes, contou que era homem, o filho do Tiburço, e ficou de buscar a certidão para a semana.
Assim fez.
Mês de maio, Lila feliz da vida com o batistério na mão. Durvalina levava o afilhado no colo debaixo da sombrinha. Mataram um capado e festejaram até tarde.
- Cumpadre, aqui tá o rigistro.
Tiburço desdobrou o papel e, quando leu, levou o maior susto.
- Mas o qui é isso? Tá errado. Pois nome de muié.
Foram ver, o nome na certidão de batismo estava Noemi Isidoro Gonçalves, sexo feminino.
Imediatamente procuraram Climério, que os levou ao cartório, já quase de madrugada. Abriu o livro e, na luz da lamparina, era assim mesmo que estava registrado.
Climério, falando sem graça.
- Mais eu dei p’ra dona Dita fazê o registro e avisei que era o nome de baixo.
No outro dia, dona Dita toda encabulada.
- Seu Climério, pedi p’ra Salete fazer.
- Seu Climério, dona Dita mandou fazer mas não explicou nada do nome. Eu pensei que fosse mulher, justificou Salete.
Como já havia apontamentos de muitos nascimentos depois daquele, não era possível fazer uma ressalva. Só com ordem de um juiz.
Ficou assim combinado, quando viesse um juiz, Climério faria os requerimentos para mudar o nome.
Sete anos depois, apareceu o juiz, mas Climério não lembrou do caso, nem avisou Tiburço. E assim ficou no esquecer de todos.
Era no tempo da primeira eleição com o voto de mulher. O juiz fazia a chamada pelo nome, o eleitor respondia a presença, dirigia-se à mesa, declarava o voto e assinava o livro.
- Noemi Isidoro Gonçalves.
- Presente. Respondi. E ele repetiu.
Eu repeti.
Ele mandou me prender.
MQ
Leia a obra completa aqui: http://sertaodosaomarcos.blogspot.com/
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terça-feira, 19 de julho de 2011
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