terça-feira, 17 de novembro de 2009

VILLA LOBOS 1887/1959

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Villa-Lobos (Heitor Villa Lobos)

Em sua mocidade Villa-Lobos pertenceu a um grupo de chorões, seresteiros de escol. Segundo o crítico Vasco Mariz, seu quartel general era "O cavaquinho de ouro", loja de música na atual Rua da Carioca, onde os chorões recebiam convites de toda a espécie para tocarem nos lugares mais diversos. Faziam parte do grupo, cujo chefe era Quincas Laranjeira, os seguintes chorões: Luís de Souza e Luís Gonzaga da Hora (pistão-baixo), Anacleto de Medeiros (saxofone), Macário e Irineu de Almeida (oficleide), Zé do Cavaquinho (cavaquinho), Juca Kalú, Spíndola e Felisberto Marques (flauta).

O repertório abrangia peças de Calado, Nazareth, Luís de Souza e Viriato. Villa-Lobos tirou os chorões do ambiente para criar uma atmosfera nova na música clássica. Naquele meio, formou uma faceta de sua personalidade, aproveitando o que havia de original. Entre os chorões, Villa-Lobos era o violão clássico e chegou mesmo a influenciá-los, tanto que, por sua sugestão, Ernesto Nazareth escreveu batuques, fantasias e estudos.

Reminiscências dessa época são encontradas em várias peças da série dos Choros e na fuga da Bachiana Brasileira nº 1, composta à maneira da música de Sátiro Bilhar.

No livro "O Choro", publicado em 1936, Alexandre Gonçalves Pinto diz: "Conheci Villa-Lobos quando ele era um exímio chorão. Tocando em seu violão o que é muito nosso com perfeição e gosto de um exímio artista, em companhia do grande cantor e poeta Catulo, de quem ele é dedicado amigo".

O permanente interesse de Villa-Lobos pela música popular está claramente evidenciado no livro de Jota Efegê "Figuras e coisas do carnaval carioca" (MEC Funarte, Rio de Janeiro, 1982) onde o autor descreve, de modo muito pitoresco, o desfile do cordão "Sodade do cordão", organizado pelo próprio Villa-Lobos.

Considerando o canto orfeônico um caminho adequado para a educação musical, é nomeado, na década de 1930, superintendente de Educação Musical e Artística pelo presidente da República, Getúlio Vargas. Em 1940, durante o Estado Novo, rege no estádio do Vasco da Gama a concentração orfeônica que reúne 40 mil escolares. No ano seguinte, no mesmo local, rege a apresentação do cantor Sílvio Caldas, acompanhado por um coro de 30 mil vozes na interpretação de "O Gondoleiro do amor", de Castro Alves.

Dentre sua numerosa obra de mais de 1000 peças de todos os gêneros, Villa-Lobos aproveitou com freqüência temas, ritmos e células de motivos populares urbanos, sobretudo da região do Rio de Janeiro, onde nasceu e passou a juventude. O crítico e seu biógrafo Vasco Mariz afirma que a série dos Choros, 14 peças escritas ao longo dos anos 20, representa sua contribuição mais importante para a música moderna, destacando o caráter suburbano do Rio de Janeiro, com seu lirismo irônico extravasado em surdinas e lissandos.

O Choro nº 2 reflete diretamente os ambientes do Rio do início do século, enquanto o Choro nº 4 é talvez o mais característico sob o ponto de vista da forma. No Choro nº 5, sub-titulado "Alma Brasileira", introduziram-se combinações rítmicas curiosas que identificam o estilo dos seresteiros. Já o Choro nº 6, para orquestra, tem muito maior envergadura e, no entender de José Maria Neves, representa "uma viagem através da alma de seu povo".

A Orquestra Sinfônica Mundial, com Lorin Mazel, gravou esta obra e o disco vendeu mais de 1.000.000 milhão de exemplares no exterior. O Choro nº 8, o choro da dança, é o choro do Carnaval nos seus múltiplos aspectos e heranças. O Choro nº 10 tem como tema central o schottisch "Yara", de Anacleto de Medeiros, que com letra de Catulo da Paixão Cearense passou a ser conhecido com o nome de "Rasga Coração".

O jornalista e crítico Luiz Paulo Horta lembra que esse é considerado o choro mais famoso da série e que a variedade de pássaros existente no Brasil serviu para alguns motivos do Choro nº 10 ("Villa-Lobos, uma introdução", Jorge Zahar Editor, 1987).

Também algumas das Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos representam a justaposição de certos ambientes harmônicos e contrapontísticos do estilo de Bach ao lado de algumas regiões do Brasil, sobretudo da música dos chorões cariocas. Vasco Mariz ressalta a notável série das 16 Cirandas e algumas peças do Guia Prático como "A maré encheu" e "Na corda da viola".

Na música de câmara destacam-se o Cinco - Quarteto de Cordas, de um lirismo seresteiro, o belo Quatuor, para conjunto de câmara e coro feminino, que o próprio autor classificava como "impressões da vida mundana carioca", e a Suíte Popular Brasileira, para violão solo, de 1912.

Merece ainda destaque a famosa série de canções, as 14 Serestas, de 1926, e o Samba Clássico, de 1950, para canto e orquestra. Entre suas obras mais conhecidas pelo grande público está "O trenzinho do Caipira", último movimento da Bachianas Brasileiras nº 2, composta em 1930, e que recebeu letra do poeta Ferreira Gullar, em 1975, como parte de seu famoso "Poema Sujo". Essa canção foi primeiramente gravada com letra por Edu Lobo, no final da década de 1970.

A cantilena da Bachianas nº 5 é talvez a música mais conhecida e executada de Villa-Lobos, principalmente depois do sucesso do filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol", escrito e dirigido por Glauber Rocha em 1964. A seqüência em que os personagens vividos pelos atores Othon Bastos e Yoná Magalhães beijam-se em pleno sertão, ao som da cantilena regida pelo próprio Villa-Lobos, na gravação da Orchestre National de la Radiodiffusion Française, com solo vocal do soprano Victoria de Los Angeles e acompanhamento de oito violoncelos, tornou-se um dos marcos do Cinema Novo.

A Bachianas Brasileiras nº 5, cujo segundo movimento recebeu letra do poeta Manuel Bandeira, mereceu as mais diversas interpretações de músicos eruditos e populares e foi incluída pelo intrumentista e compositor Egberto Gismonti no seu disco inteiramente dedicado a uma releitura da obra de Villa-Lobos, "Trem Caipira", lançado em meados da década de 1980.

Extraída da obra "Floresta Amazônica", a canção "Melodia Sentimental" foi gravada também na década de 1980 por Ney Matogrosso e Olívia Byington. A canção "Modinha", com letra de Manuel Bandeira, foi incluída por Antônio Carlos Jobim em disco gravado na década de 1980, com interpretação vocal de Danilo Caymmi.

Villa-Lobos foi, aliás, um dos compositores mais admirados e citados por Tom Jobim, e um exemplo dessa influência é a música "Saudade do Brasil", composta e gravada por Tom Jobim em 1976, no disco "Urubu". Em 1980, Milton Nascimento gravou no LP "Sentinela" a faixa "Caicó", uma adaptação da compositora Teca Calazans para o terceiro movimento (Cantiga) da Bachiana Brasileira nº 4.

Os músicos Turíbio Santos, João Carlos Assis Brasil e Wagner Tiso estão entre os que mais recentemente têm revisitado a obra de Villa-Lobos.

No ano 2000, o cineasta Zelito Vianna levou às telas o filme "Villa-Lobos", interpretado na juventude pelo ator Marcos Palmeira e na maturidade pelo ator Antônio Fagundes. As atrizes Ana Beatriz Nogueira e Letícia Spiller interpretam respectivamente as duas mulheres com quem o compositor casou-se: Lucilia e Mindinha.

Desde 1960, o acervo de Villa-Lobos é resguardado pelo Museu Villa-Lobos, criado por determinação do presidente Juscelino Kubisthceky e que teve a viúva do compositor (Mindinha) como idealizadora e diretora até 1985. O museu se encontra atualmente num casarão do século XIX tombado pelo Patrimônio Histórico, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. O endereço do Museu Villa-Lobos na internet é: www.museuvilla-lobos.org.br.

O livro biográfico de Vasco Mariz, intitulado "Villa-Lobos, compositor brasileiro", já teve onze edições das quais duas em inglês, uma em francês, uma em russo, uma em espanhol e e uma em italiano.

Villa-Lobos já mereceu em torno de 70 livros dedicados a sua obra, tanto no Brasil, quanto no exterior.

Em 2007, foi lançado o DVD "Quadros de uma alma brasileira" no qual são interpretados seus choros de câmara, além do "Sexteto místico" e do "Noneto", pela Companhia Bachiana Brasileira com direção de Ricardo Rocha.

Em 2007, foi o Palácio do Itamaraty, Rio de Janeiro, o DVD "Quadros de uma alma brasileira", no qual são interpretados seus choros de câmara, além do "Sexteto místico" e do "Noneto", pela Companhia Bachiana Brasileira com direção de Ricardo Rocha. Nesse ano, o dia 5 de março, data de seu nascimento, foi escolhido pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro como o "Dia Estadual da Música Clássica".

Em 2009, por ocasião do cinqüentenário de sua morte suas partituras originais começaram a ser digitalizadas, assim como todo seu acervo reunido em 220 caixas guardadas no Museu Villa-Lobos, para em seguida serem disponibilizadas ao público. Também como parte das homenagens ao cinqüentenário de sua morte foi programada para outubro uma grande exposição no Arquivo Nacional com fotos raras, documentos e vídeos históricos do compositor bem como a gravação de todas as suas sinfonias pela Orquestra Petrobras Sinfônica com o posterior lançamento de CD. Também foi planejada para a Sala Cecília Meireles o ciclo "Paria de Villa-Lobos" com concertos sinfônicos e de câmara com obras que ele ouviu e fez ouvir quando morou em Paris na década de 1920.
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Fonte: Dicionário Cravo Albin
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2 comentários:

  1. Sabia que você não iria esquecer
    os cinquenta anos da morte dele!!

    Vou ler tudo com muita atenção!

    Meu carinho!

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