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O Amor acordou, naquele dia, desempregado. Do lado esquerdo do peito, digo, da cama, nem os lençóis. O Amor levantou-se, persignou-se, tomou um banho demorado, escovou os dentes, vestiu a melhor roupa, preparou o café-da-manhã (pra um), tomou-o, saiu sem bater a porta… Esse item merece um parêntese: o Amor nunca bate a porta (sem crase) (a recíproca não é verdadeira). O Amor caminhou até o ponto de ônibus, esperou durante trinta minutos, tomou o lotação (lotado), desceu no Centro e foi procurar emprego. Deu com a cara na porta. “Não há vagas”. Nem no escritório, nem na indústria, nem no comércio, nem na obra, nem, nem, nem, nem… Pra ser funcionário público precisava prestar concurso. Pra ser motorista ou doméstico precisava de carta de referência, e, como se sabe, em casa e ao volante, o Amor não tem lá as melhores referências. Em desespero de causa, o Amor tentou montar uma barraquinha de camelô em frente ao Teatro Municipal. Foi expulso a pontapés pelos companheiros que lá já estavam. E ele, que é canhoto, entrou pela rua Direita e foi dar (literalmente) na Liberdade. Vender o próprio corpo, por que não? Fez rapidamente amizade com outras profissionais que faziam ponto ali e sem maiores problemas encontrou um cantinho (aliás, pontinho) seu. Esperou. Esperou. Esperou… Suas companheiras havia muito já tinham ido e voltado, no entanto continuava ele, o Amor, ali. Timidamente, aproximou-se de outra novata (uma cearense recém-chegada do Crato) e perguntou-lhe: “Qual é o meu problema, afinal?”. A moça, gentilmente, embora um pouco constrangida, respondeu-lhe: “Ói, moço, do pouco tempo que eu tô pelaqui, inté hoje só me pediro sexo… Amô inda não”. E lá se foi o Amor. Pegou o ônibus pra Divisa de Diadema, desceu no ponto final, caminhou longos minutos até o Jardim Míriam, no intuito de vender droga. Pra resumir, mais uma vez não foi aceito, afinal, o Amor é droga que, apesar de barata, não dá “barato”. Voltou pra casa a pé. Lá chegando, encontrou a porta escancarada, tal qual a havia deixado. O Amor chorou no sofá, ouvindo Roberto Carlos. "Mas, se não for por amor, me deixe aqui no chão". O Amor bebeu. O Amor sentiu ânsia de vômito, correu até o banheiro, porém, antes do momento crucial, teve tempo de olhar-se de relance no espelho e perceber o que lhe faltava: o Amor-Próprio.
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Léo Nogueira - http://www.oxdopoema.blogspot.com/
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quinta-feira, 15 de julho de 2010
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Grande Quinan! obrigado pela força! As amizades que conquistamos ao longo da vida nos fazem o contrário do seu poema acima:
ResponderExcluirmenores antes,
maiores depois!
Grande abraço ensolaradamente cearense direto da chuvosa Sampa,
Léo.
Léo,
ResponderExcluirOutro pra você e seja sempre benvindo aqui.
Quinan