domingo, 31 de janeiro de 2016

O idealizado - mq


 

Para ele, era a pessoa mais maravilhosa que já conhecera, aquela beleza que quanto mais se olhava mais se percebia, ficava deslumbrado. Seus gestos, a voz, o olhar eram na dose certa; o mistério e a simplicidade misturando-se em harmonia. Uma alegria contagiante, no jeito sutil e embriagado. Assim foi nascendo. Quanto mais a conhecia, mais amplificava a sensação de que era tudo que sonhara. No começo ficou arrebatado com o amor, com a pessoa. Sentia-se feliz, muito feliz.

Para ela, na primeira mentira, o perdão. Depois um descaso corriqueiro, perdoado. Outras mentiras e o perdão. Em alguns momentos, parecia uma estranha, distante, confusa, inventando situações. Provocando ciúmes, desconfianças e pequenos jogos de sedução. O amor era maior, desculpava e abrandava tudo, a vida seguia.

Para ele, cada vez que a perdoava, uma mágoa ficava plantada no coração.

Um dia telefonou e a gravação informou número inexistente. Passou na porta da casa e não viu o carro; bateu assim mesmo, insistentemente, até um vizinho informar que ali não morava ninguém. Procurou-a no trabalho, não a conheciam. Ninguém a conhecia em nenhum lugar onde estiveram juntos.

Chegou um tempo amargo e dolorido; não a queria mais e ao mesmo tempo queria desesperadamente.

Tentou em vão achá-la. Para ele, a mulher inexistente existia.

 

 
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