sábado, 26 de novembro de 2011

CARLOS HENRIQUE MACHADO FREITAS

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Carlos Henrique Machado Freitas on 25 25UTC novembro 25UTC 2011 às 15:13  

A primeira coisa que me vem à cabeça é a farsa da interrogação. Com tantos investimentos, declarados a princípio para o “fomento da cultura brasileira”, estávamos ou não conseguindo um avanço relativamente pequeno nas questões da produção nacional? Não. Estamos num abstracionismo e surrealismo gerencial faz tempo. Este anarquismo modernoso tem nos imposto uma refinada podridão. “Inovações técnicas” são apresentadas como a grande moral das corporações, enquanto, por outro lado a concentração econômica faz suas crivagens dentro do corpo social da cultura brasileira. Ocorre que não vemos na grande mídia um traço de união, um artigo crítico ou a graça de uma coluna que detone todas essas teorias de um subjetivismo hermético e, cada vez mais instrumentalizado pelo imperialismo adaptado às condições locais. Agora esses artifícios celebralistas levados ao extremo, revelam pela matemática, o quanto a música nacional do Brasil sofreu uma nefasta infiltração formalista. O problema é que servilmente a nossa expressão característica com maior desenvolvimento, ou seja, a nossa música não conseguiu erguer um grito de alerta suficiente contra esse falacioso cosmopolitismo agradável tão somente aos que amam o universalismo anti-representativo. E esta praga detona a nossa representação no congresso, na democracia; destrói as bases seculares de nossa música e cria um abismo letal entre o músico e a sociedade brasileira. Infelizmente muitos de nossos músicos, compositores, por inadvertência ou ignorância, deixaram-se seduzir pelas teorias de progresso de nossa cultura sendo orientados não mais pelas nascentes, mas pelo sentido contrário ditado pelas grandes fundações e institutos privados que são hoje a corrente formal que mais degenerencia o caráter nacional de nossa música. A questão é que essa inflexibilidade , caso dos tributos, simbolizam apenas que perdemos o sentido crítico diante da cultura do Brasil. E se ninguém quer ter grandes responsabilidades com o sufocado talento de nossos criadores, não serão os grandes conglomerados e seus quartéis nas grandes avenidas deste país que vão querer saber da progressão de nossas ideias, de nossas criações, sobretudo se elas forem acompanhadas de senso filosófico e moral. É esta mesma ética enviesada e glorificada pelos universalistas que faz com que um maestro como Roberto Minczuck vá a uma TV pública chamar a escola brasileira de música de boca do lixo. E a coletividade responsável em repudiar a visão primitiva do pomposo maestro, emudeceu-se. Com a ausência de um verdadeiro interesse pela música brasileira por um movimento de expressão, o maestro seguiu sua guerra paralela contra os músicos da OSB até às demissões dos mesmos e, finalmente, em plena luz do dia, em nome do “progresso técnico”, destruisse um dos maiores símbolos deste país, a Orquestra Sinfônica Brasileira. E se tudo isso reflete o vazio da nossa capacidade de repudiar os cacoetes do anacronismo anti-nacional, o restante do mundo musical brasileiro será levado ao extremo da destruição. É a química, é a arquitetura, é o prejuízo com que a nossa falta de solidariedade com a música do Brasil nos brinda. Talvez precisemos, no Brasil, como no mundo árabe, de uma “primavera musical”, aonde os músicos, os artistas abandonassem a sua lógica de sobrevivência individualista e se comportando como parte da sociedade, tomassem os espaços públicos para pressionar o poder público. A pergunta é: temos autruísmo para chegar a tanto? Temos coragem de correr certos riscos ou ficaremos na omissão caricata como se fôssemos um subproduto social que se tornou ausente dos interesses das questões nacionais? Acho que as fronteiras não são tão rígidas, estamos nos entregando a uma marginalidade dócil onde se admite praticamente perder o estado geral de nossa representatividade institucional para, de forma voluntária, buscar remédios para os nossos individualismos. Se o processo econômico nos divide, nos enterra intelectualmente, não é pelas mãos do governo que seremos içados. A sociedade cumpre o seu papel e, na maioria das vezes, não tem acesso ao que ela própria patrocina com seus impostos extraídos com o suor do dia a dia. Porque ao contrário do que é dito, o povo brasileiro sempre viu em seus artistas genuínos os grandes representantes de sua identidade, principalmente os músicos. Mas vamos à questão prática: vejo companheiros numa luta sem tréguas enfrentando montanhas de obstáculos para dar condição de sobrevivência minimamente digna aos músicos brasileiros, mas acaba que, diante da competitividade global imposta pelo financeirismo que tem criminosamente destruído sociedades inteiras, suas lutas que são de extremo valor ficam pequenas diante de um obstáculo e do abandono da solidariedade de muitos de nós. Por isso todo esse silêncio constrangido é absolutamente inaceitável, porque, ao invés de avanços, com o solo cansado, seguimos vendo as nossas raízes sendo envenenadas na produção industrial em estado de decomposição. E, se por um lado esse engodo em nome do marketing cultural, a dissimulação e o cinismo são os nomes dessa tática estratégica que apenas produz a glorificação da esperteza dos grandes conglomerados, a questão tributária que deveria cumprir o papel de democracia cultural, realiza em nome do próprio sistema uma violência estrutural contra a natureza de nossa própria história no campo da cultura. E como a nossa música é o principal fermento de nossa solidariedade artística, a negligência com toda a produção, acaba por servir à morte de políticas voltadas a um processo que nos dê ao menos a capacidade mínima de competir no território nacional contra essa perversidade. Precisamos de um discurso único, um discurso que permita que não só resistamos ou sobrevivamos às muitas instituições que lutam aqui embaixo pela valorização da música e do músico brasileiros, precisamos de um padrão único em que o mesmo seja o cérebro de um sistema de forças capaz de pensar o ano inteiro o mundo musical que se realiza no território brasileiro. A minha proposta que inúmeras vezes enviei aos Ministros Gil e Juca e que nunca se realizou, é que a música do Brasil que é um patrimônio do povo brasileiro esteja entre os baloartes que compoem as instituições vinculadas ao MinC, assim como o IPHAN e etc., tomando como parâmetro uma nova modalidade, uma nova regra de produção e consumo em que as finalidades obedecessem à ordem do território da música. Sem esta base, continuaremos, diante de tanta competitividade no mundo globalizado, a viver de compaixão. Por isso temos que convocar o pragmatismo e fazer da música do Brasil uma instituição dentro do Ministério da Cultura com capacidade técnica e científica que se disponha a valorizá-la, primeiro, em nível geográfico local e, depois, em nível global. Só assim teremos novas soluções organizacionais capazes de interferir nas políticas públicas e nas empresas que manipulam milhões de verbas públicas com a Lei Rouanet em nome do processo e da produção artística, cada vez menos nacional. Isso significa que está mais do que na hora de fazer desta GRITA tão bem exposta por Sergio Ricardo, o início de uma mobilização nacional em nome da música do Brasil. O que estamos esperando?
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