quinta-feira, 14 de agosto de 2014

VITAL LIMA


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Uma das pessoas mais belas que conheci. Tímido e intenso em sua sensibilidade apurada. Simples, não ostenta o homem culto que é, nem se alardeia pela vida da sua arte como é comum ver tantos fazerem. Sua emoção não conhece trégua, vive em intimidade constante com a razão, vive dentro do que faz. Na música para teatro, nas parcerias, no jeito definido das harmonias que veste em melodias entalhadas no puro sentimento, nas letras que revelam o poeta dentro do compositor e o compositor dentro do poeta. E as interpretações, essas um caso a parte, nos embriaga com a precisão da simplicidade.
 

Penso que as vezes, nas madrugadas ele, como Jayme Ovalle, deixa janelas abertas e recebe anjos. Certamente, quase todas as noites, eles chegam para convívios e cantorias. Decerto um anjo convida outro pra vê-lo cantar Amor de Lua, Pastores da Noite, Tempodestino, Fruta Rachada, Carta da Ira... Um abençoado, no timbre da voz e na forma que se doa a cada canção.

 
A percepção do compositor, poeta, músico e do interprete extraordinário que é, leva pra onde vai, junto ao universal do homem em seu cotidiano de quereres, a brasilidade de mãos dadas com particularidades da Amazônia, sua terra, seu lugar de voltar.

 
Generosidade, essa quase raridade nos dias de hoje, é outra marca em seu trabalho e em sua vida. Discreto, mas presente sempre, somando seu talento a outros, se doando integralmente como quem sabe quem é, pode fazê-lo. Ouvi-lo cantar é como ser arrebatado por sentimentos guardados ou não percebidos, como se descobríssemos um momento interior de essencialidade. Um momento vital.

 
Vital Lima nasceu em Belém-PA, o violão materno e seu talento revelado no I Festival de Música e Poesia Universitária o levou definitivamente para o interprete e o compositor. Parceiro de Nilson Chaves, Hermínio Bello de Carvalho, Joãozinho Gomes, Marco André, Eudes Fraga, Celso Viáfora, Fernando Carvalho, Marco Aurélio, Mapyu, Sidney Piñon, Renato, Manoel Cordeiro entre muitos outros.

 
Teve seu trabalho gravado desde o começo da carreira por Marlene, Wanderlea, Simone, Ademilde Fonseca, Elizeth Cardoso, Fafá de Belém, Emílio Santiago, Nilson Chaves, Lucinha Araújo, Lula Carvalho, Renato, Zeca do Trombone, Grupo Quintais, Alaíde Costa, Magno, Delço Tainara, Marco André, Walter Bandeira, Amadeu Cavalcante, Marisa Gata Mansa, Fruta Quente, Lucinha Bastos, Tadeu Pantoja, Simone Almeida entre tantos outros.

 
Como intérprete, além de parte da sua obra registrada nos discos, Pastores da Noite, Cheganças, Vital, Chão do Caminho e Das Coisas Simples da Vida e de seu trabalho também impecável com o parceiro e amigo de infância Nilson Chaves nos antológicos, Interior e Waldemar (considerado um dos 10 melhores lançamentos daquele ano pela crítica do jornal "O Globo" do Rio de Janeiro e pelo próprio Maestro Waldemar Henrique como impecável), empresta, em generosidade e precisão, a voz para muitas dezenas de canções em trabalhos de amigos e parceiros com o mesmo zelo que tem pelas suas.

 
No teatro, para o qual contribuiu também com sua música desde cedo, escreveu, entre algumas outras, as trilhas das peças “O Cândido Chico Xavier” encenada pela Cia do Caminho e de “Bonequinha de Pano” de Ziraldo, grande sucesso e publico e crítica. Escrita em parceria com Jamil Damous e com o próprio autor, ganhadora do prêmio “Maria Clara Machado” da Prefeitura do Rio de Janeiro em 2003.  

 
Vital Lima é referencia na Amazônia inteira desde o começo de sua carreira, referencia como interprete, como compositor e como o ser iluminado que é. Em sua obra está presente a percepção apurada da Amazônia e do sentimento humano.

 
Mestre da Sensibilidade, amigo de uma chusma de anjos que, como eu, freqüentam sua arte e sua amizade.

  

À Benção Vital Lima

 


Marcos Quinan
 
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