quinta-feira, 31 de outubro de 2013

CASCA - MQ

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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

BANDEIRA - MQ

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terça-feira, 29 de outubro de 2013

TRIGO - MQ

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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

OITADO - MQ

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domingo, 27 de outubro de 2013

HAVANA CENTRO - MQ

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sábado, 26 de outubro de 2013

TERRA DO CHÃO - MQ

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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

PRELÚDIO - MQ


 
- à amiga distante -

 
imagino-te em vestido solto

sentada numa poltrona

de meias grossas

e pés na janela

num fim de tarde frio

bebendo poesia e vinho

 
imagino na tua pele

tons de manhãs

e olhos orvalhados

em pertencimento
 

e um momento de fingido pudor

quando um verso

se aninha em teu colo

e uma gota de vinho

mancha o tecido

que te emoldura o ventre

 
falamos de nava...

te ouço em palavras

e canto poemas antigos

 - meus versos de procura -

carregando a angustia

 
imagino tua embriaguez

e também bebo saudade

nas palavras sem sujeição

que espalhas por veredas

- é tua alma na minha

em atos de amor e desejos

 
na esquina nova do mundo

a distancia da tua presença

toca com ternura minha emoção

para compartilhar palavras

e a intensidade dos poetas

transgressores, loucos sãos

 
ouço villa lobos

lembro ovalle

e sinto saudades...

quando entrego à amiga

por dito de gesto simples

esse um tipo de amor
 
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RUY GODINHO - RODA DE CHORO

 
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O programa Roda de Choro deste sábado traz no primeiro bloco o CD Caminhos do Choro, do flautista Alexandre Weffort, lançado em 2002.

No 2º bloco o destaque vai para o pianista e compositor paulista Laércio de Freitas e o som do LP São Paulo no balanço do choro, de 1980.

Em seguida destaca o encontro de Mário Sève (flauta/sax) com Marcelo Fagerlande e o CD Bach & Pixinguinha, lançado em 2001.

No bloco do Choro Cantado, teremos a revisita do cantor e compositor Mineiro Tadeu Franco e o som do CD Orlando, lançado em 1995.

E para finalizar o som do CD Dançando nas nuvens, do saxofonista/flautista e compositor carioca Mauro Senise.

        
Produção e apresentação: Ruy Godinho
 
 
 
 Transmitido pela Rádio Câmara FM 96,9 Mhz - Sábado 12h [Brasília – DF] (www.radio.camara.gov.br)
  
Retransmitido por 148 rádios parceiras
 
 
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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

CASCA - MQ

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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

PÁTRIA TRISTE - MQ

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terça-feira, 22 de outubro de 2013

BATACOTÔ - RIO DE JANEIRO

 
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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

domingo, 20 de outubro de 2013

VELAS - MQ

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sábado, 19 de outubro de 2013

IBGE apresenta indicadores da cultura

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O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentou nesta sexta-feira (18/10) o estudo Sistema de Informações e Indicadores Culturais 2007-2010, realizado em parceria com o Ministério da Cultura, com o objetivo de organizar e sistematizar informações para a construção de indicadores relacionados ao setor cultural brasileiro.

Esta é a terceira edição da análise, que utiliza dados do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), da Pesquisa Industrial Anual-Empresa (PIA Empresa), da Pesquisa Anual de Comércio (PAC), da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) e dos gastos públicos com a cultura de 2007 a 2010, além da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2007 a 2012.

Foi identificado que as famílias gastaram, de 2007 a 2010, em média, 8,6% do seu orçamento mensal (equivalentes a R$ 184,57) em produtos e serviços relacionados à cultura, sendo que os gastos com telefonia representam a maior parte desse montante: R$ 78,26, ou 42,4% da despesa com cultura. A seguir está a aquisição de eletrodomésticos (R$ 28,89, ou 15,7%) e só em terceiro lugar as atividades de cultura, lazer e festas (R$ 26,00, ou 14,1%).

“A telefonia possui grande peso, independentemente do recorte considerado. Quando não se leva em conta este grupamento, a aquisição de eletrodomésticos representa 27,0% da despesa com cultura, enquanto as atividades de cultura, lazer e festas equivale a 24,5%”, informa o relatório.

Trabalhadores da cultura – O número de trabalhadores vinculados ao setor cultural alcançou 3,7 milhões em 2012, o equivalente a 3,9% do total de ocupados no Brasil. A região Sudeste apresentou a maior proporção em todo o período (4,5% em 2012), sendo que São Paulo foi o Estado com a maior participação de trabalhadores em atividades culturais na população ocupada: 5,1%, o equivalente a 1,1 milhão de pessoas.

Em 2007, 1,4 milhão das pessoas envolvidas em atividades culturais possuíam carteira assinada (34,4% do total de ocupados na cultura). Em 2012, esse número chegou 1,5 milhão (39,8% do total de ocupados). Segundo o IBGE, a maior participação de trabalhadores com carteira assinada no setor cultural influenciou a elevação do percentual de contribuintes para a Previdência, de 46,3% em 2007 (1,9 milhão de pessoas) para 55,8% em 2012 (2,0 milhões de trabalhadores).

Já o rendimento médio real mensal dos trabalhadores da cultura foi estimado em R$ 1.258 em 2007 e em R$ 1.553 em 2012, valores superiores aos rendimentos da população ocupada no total das atividades produtivas (respectivamente, R$ 1.213 e R$ 1.460). São Paulo e Rio de Janeiro foram as unidades da federação analisadas onde a população ocupada em atividades culturais recebia mais (R$ 2.093 e R$ 1.996, respectivamente), mais que o dobro do salário médio recebido pela população ocupada na cultura no Ceará (R$ 952), menor valor estimado para o salário médio mensal.

Despesas públicas - Os gastos governamentais com a cultura nas esferas federal, estadual e municipal totalizam 0,3% do total das despesas consolidadas da administração pública em cada ano do período analisado (2007 a 2010). Esses valores foram de R$ 4,4 bilhões em 2007 e R$ 7,3 bilhões em 2010.

O governo federal ampliou seu volume de gastos no setor cultural, de R$ 824,4 milhões em 2007 para R$ 1,5 bilhão em 2010. É a esfera governamental menos representativa (18,7% em 2007 e 20,5% em 2010), mas os dados coletados são referentes apenas às despesas orçamentárias (Orçamento Fiscal e da Seguridade Social) e não incluem os referentes à Lei Rouanet.

Os governos estaduais destacaram-se na participação dos gastos públicos com cultura, totalizando R$ 1,4 bilhão (32,3%) em 2007 e R$ 2,5 bilhões (34,9%) em 2010. De 2007 a 2010, São Paulo aumentou suas despesas em cultura de R$ 470,6 milhões para R$ 992,9 milhões; o Rio de Janeiro de R$ 77,5 milhões para R$ 163,6 milhões; e o Distrito Federal de R$ 65,9 milhões para R$ 152,7 milhões.

A participação dos municípios caiu de 49,0% em 2007 (R$ 2,2 bilhões) para 44,5% em 2010 (R$ 3,2 bilhões), mas eles continuam sendo os principais entes governamentais no que diz respeito ao total de gastos públicos com cultura. “A maior importância dos municípios pode ser explicada pela proximidade desta instância com a população e suas respectivas demandas culturais, por parte de gestores, produtores e consumidores de bens e serviços culturais”, explica o documento.

Clique aqui para acessar o estudo na íntegra.

Fonte: Mônica Herculano - Diretora de redação de Cultura e Mercado e diretora de conteúdo do Cemec.

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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

RUY GODINHO - RODA DE CHORO

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O programa Roda de Choro deste sábado traz no primeiro bloco Capitão Miguel Rangel, compositor nascido em 1845;

No 2º bloco o destaque vai para o flautista paulista Ricardo Kanji e o som do CD Não tem choro - Ricardo Kanji Chorando com os amigos, lançado em 2004.

Em seguida destaca o som do CD Presença, do quarteto paulistano Quaternaglia, lanado em 2004. 

No bloco do Choro Cantado, teremos o virtuose pianista, compositor e intérprete pernambucano Zé Manoel e seu primeiro CD, lançado em 2011. 

E para finalizar o som do CD Pirralho, do cavaquinistae compositor cearense Pardal.
  
Produção e apresentação: Ruy Godinho

 Transmitido pela Rádio Câmara FM 96,9 Mhz - Sábado 12h [Brasília – DF] (www.radio.camara.gov.br)

 
Retransmitido por 148 rádios parceiras
 
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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Zé Bugio - MQ

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O grupo se reuniu naquela noite. Combinaram resistir à sobranceria da coroa. Dali saíram emissários para todo lugar na urgência dos fatos.


De couto, no camboqueiro, às margens do Bujaru, Zé Bugio, sungando as calças toda hora, esperava notícias com os homens reunidos. O lugar, vigiado em todas horas, fervilhava de fugidos, tapuios, cafuzos e os curibocas enviados do Acará. Estavam prontos, era a força formada em poucas armas tomadas em escaramuças, nos caminhos e na revolta fermentada pela exploração portuguesa. 


O mensageiro foi chamado de madrugada para levar a mensagem, passou mal e finou no caminho. Pediu ao remeiro entregar a carta mas não deu tempo de contar do conteúdo. Começou a falar de um grande ataque para assumir a província, mas não conseguiu completar, ficou sem falar do dia, e dos procedimentos.


Zé Bugio, ao receber a mensagem, pediu ao portador que a lesse, mas o rapazote não sabia. Ninguém ali sabia ler para desespero do destemido Zé Bugio.


Juntou um grupo de seguidores, que municiou com as melhores armas para buscar no engenho, léguas acima, quem soubesse, qualquer pessoa, fosse escravo ou não, por vontade ou à força se preciso.


Ele mesmo ficou andando de um lado para outro, o dia inteiro e, à noite, passou horas em volta da fogueira olhando as letras daquela caligrafia bem traçada; vez em quando esbravejava por ninguém saber ler. Dali não arredou até amanhecer.


Gastou a madrugada chamando, ora um, ora outro, como se inventariasse as condições de cada e suas armas. Uma inutilidade aquilo, pensava nos homens, consumia-se naquela providência sem saber o que fazer do tempo, na impaciência de esperar.


O dia clareava, já nascendo mormacento, quando ouviu, enfim, o barulho dos homens, chegando com o feitor do engenho, amarrado pelas duas mãos num pau atravessado no pescoço, como se canga fosse. Vinha coxeando, com um riso esquecido no canto da boca, de cabeça erguida, numa altivez que dava raiva; limpava no ombro, toda hora, o filete de sangue que escorria no canto da boca.

Trocaram ásperas palavras no meio da roda formada, Zé Bugio estendeu o papel que o feitor leu quase à força, tal qual estava escrito; a convocação era para que tomassem pelo Acará, o rumo de Murutucu em grupos poucos homens, levando toda arma e toda pólvora que conseguissem, terçados, cacetes e o que mais tivessem, deveriam chegar em dois dias, iam tomar a cidade de surpresa.

Ali mesmo, depois de ler a mensagem, o feitor foi morto a pancadas. Um sofrimento que lhe impingiram num ritmado igual se tivesse no tronco, vingando castigos e maus tratos.

Traçaram o rumo, espaçando a saída de cada grupo, na recomendação de margear os caminhos e evitar serem vistos ou qualquer confronto. O prazo de se juntarem de novo era o ponto da Biqueira onde as canoas esperavam para atravessarem o Acará.

Zé Bugio seguia com o negro Fitada e João Camboa quando este exclamou:

 

        Leu errado! O desgraçado leu errado, sabia que ia morrer.

 

Disse como se tivesse certeza e contagiou os companheiros. Zé Bugio esbravejou em demônios, travou a marcha, enquanto pensava e tomava a decisão de seguir, mesmo que o rumo fosse o contrário. Pensou alto que a cidade não ia sair do lugar, por qualquer lado que chegassem ia ser igual,  estavam prontos para qualquer luta.

Mal pensamento restou, e se os remeiros estivessem esperando na baía e o combate que lhes destinaram fosse na armada? Avaliava nervoso, caminhando, mesmo na indecisão, quando ouviu o barulho de resfolego de animal e a voz, parecendo de mulher.

Aviou João Camboa, ladeando pela esquerda; qual foi a surpresa; era a viúva Teodora e a mucama no caminho com mais dois negros velhos, pessoa tida como corajosa, dona daquelas terras por herança de finado marido, era respeitada por todos e temida por muitos.

Assustadas, mas sem esboçar o menor sinal de impor galope nos animais, ficaram caladas até Zé Bugio estender o papel e pedir que a sinhá lesse. Ela o fez se empalidecendo muito, confirmando na sua leitura as suspeitas de que o feitor tinha mentido, deviam era margear pelo outro lado, até avistar as canoas.

Um sinal de cabeça e um tapa nas ancas do cavalo foi o agradecimento. A raiva dominou a hora no esbravejar do cabano, os três se puseram de novo no mato, não sabiam o que fazer para juntar os grupos espalhados e ficaram mais afobados ainda com o comentário de Fitada.

 

        Cunheço ela! Tá mintindo... mais quê tá...

 

Zé Bugio pediu marcha, a cidade estava lá, atacava por onde fosse. 
 
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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

CHUVA - MQ

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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Pantaco e Buiú - MQ

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Vinha no rebojo do braço de rio que crescia e minguava solavancando as águas, remoinhando como numa bateia, fúria de vento encanando rodopio, hora tardia de margear, pensou antes de avistar o mandiocal.

A riqueza estava ao seu alcance, podia tocá-la; com a moeda entre os dedos, pensativo, passou o polegar no serrilhado como se conferisse o valor, pôs-se na direção até enxergar a casa.

O silêncio conferiu, todos dormindo; no claro da noite escolheu onde esperar a melhor hora. Na aurora ouviu os primeiros movimentos, se aproximou vendo Vicente Martins Lopes sentado na rede calçando as botas, subiu dois degraus da varanda e disparou. O estampido ressoou pela casa na primeira hora da manhã, quem correndo chegou perto ainda viu o último sangue esguichando, estava morto. 

Pantaco, sem que ninguém o visse, entrou pelos matos, mesmo caminho que veio, atravessou a calma das águas naquela hora, ia buscar sua riqueza com os irmãos do morto.

Vicente Martins Lopes era o primogênito, filho de reinóis, nascido na Cidade do Pará, beneficiado com o morgado do pai, herdade, escravos, casa comercial e outras rendas.

A irmã, Constância, viúva sem filhos, vivia com ele no casarão da Rua dos Mártires; seu irmão, Jorge sempre em viagens pela Europa, custeadas por Vicente que nunca se casara, passava muito tempo na fazenda desde que se unira aos foreiros para se opor aos sucessivos governos portugueses e seus simpatizantes que menoscabavam o valor dos brasileiros.     

Pantaco, de mãe africana e pai mameluco, moreno claro, forte, bem vestido e calçado por exigência de sinhá, parecia um alforriado bem sucedido quando andava pelas ruas. Mas vivia junto com os outros quatro escravos no casarão, era o preferido da senhora e a servia como se fosse uma mucama.

Jorge, sempre que voltava de suas viagens, manifestava à irmã o descabido; não dividirem os cabedais deixados pelo pai. Precisavam fazer alguma coisa, não podiam ficar à mercê do irmão que vivia metido com foreiros, pregando idéias de infames. Queria vê-lo morto, já que não aceitava falar em dividir os bens.

Observava a dedicação do escravo à irmã com malícia no olhar mas também com a naturalidade de homem muito viajado, freqüentador da corte, acostumado com o predomínio da vontade dos mais poderosos. Via em Pantaco, escondida, a mesma ambição que sentia. Aliciá-lo, para seu propósito, foi mais fácil que convencer Constância.

Pôs em sua mão a primeira moeda portuguesa das muitas que receberia; instruiu, junto com a irmã, a alforria. Combinaram esperar seu embarque para Portugal, a animosidade aumentar na política da província e os outros da casa acostumarem com Pantaco dormindo, de vez em quando fora, em serviço de aluguel na marinhagem. Constância concordava em acompanhar pelo pasquim pregado na porta da Lopes & Filhos, a situação política e dar o dia certo da consumação.

A notícia chegou do Acará junto com o corpo, um casal de escravos e o velho tapuio Buiú. Espalhou-se entre os políticos rapidamente levando muitos deles, consternados, a se reunir, partidários e oponentes culpando uns aos outros.   

Pantaco providenciou, na igreja, o sepultamento, a mortalha, a música fúnebre e o pagamento das mortuárias. As exéquias, no mesmo dia, foram assistidas na igreja, cheia de partidários do morto, muitos comerciantes e algumas autoridades, num ambiente tenso de olhares acusadores e de muita tristeza da irmã.

Na cerimônia, o comandante das armas fez a promessa de todos os esforços para encontrar o assassino que já estava sendo procurado pela milícia desde aquela manhã. Tropas tinham sido enviadas à Vila do Acará para investigar junto com as autoridades de lá.

Sem testamento, o espólio foi arrolado, enquanto Jorge voltava de viagem, os negócios tocados por Constância, com ajuda de Pantaco, na cidade, e do tapuia Buiú, na fazenda, pois mais entendia das ocupações já que vivia lá desde menino, sempre o braço direito do patrão.

No mesmo dia em que o navio aportou trazendo Jorge, Buiú chegava do Acará. Vinha trazer a farinha e buscar o de prover. Encontraram-se na Rua do Norte e seguiram juntos até o casarão onde o tapuia sempre dormia junto com os escravos.

O encontro de Jorge com a irmã e Pantaco foi mais de silêncios do que de cumplicidade; alguma coisa estava diferente, o escravo aumentara a intimidade com a irmã que parecia se submeter ao olhar dele. O acerto se deu poucos dias depois, venderiam e dividiriam tudo. Jorge queria viajar pelo mundo, Pantaco receberia sua pequena fortuna em moedas portuguesas como combinado e teria oficializada sua alforria. Constância sonhava morar na França.          

Começou desconfiar no dia do enterro, passada a cerimonia. Pantaco pareceu inquieto demais; nos dias em que ficou no casarão Buiú notou as pequenas coisas que aconteciam, incomuns antes da morte do patrão: o escravo dando ordens com voz autoritária, vestindo roupas que só poderiam ser do morto e recebendo incumbências da senhora sempre de portas fechadas. Quando acompanhou Jorge pela rua, no dia de sua chegada, viu a pouca bagagem que trazia, estranhou. Conhecia seus hábitos elegantes desde pequeno, ao contrário do irmão, um rústico, vivia folgazão, desfrutando do nome da família pelas altas rodas, sustentado como estudante, sem nunca ter pisado na escola em Coimbra.

Na casa, mal se via Constância, sempre pelos quartos trancada numa tristeza maior que o luto quando o pai morreu.

Buiú andou pelas ruas, nas bodegas e terreiros. Entre remeiros, aguadeiros, soldados, procurando saber o que comentavam. Nos ajuntamentos de escravos, apesar de proibidos, ouviu muito sobre política e deserções, nada do crime.

Procurou os conhecidos alugadores que viviam se gabando das mortes executadas, ninguém sabia de nada e, entre eles aquele caso era tido como coisa de família, muito escondida. Falavam que se fosse política saberiam, quem contrata vingança quer que todos saibam, modo produzir o temor. Fosse política, mais temor ainda.

O tapuio passou dias vigiando Pantaco até ficar, sozinho, frente a frente, sustentou apenas o olhar no susto dele, não disse uma palavra sequer. O negro, com o deixar cair dos ombros e o semblante, confessou. Foi a reação esperada, Buiú estendeu a mão esquerda espalmada e com a outra em perpendicular a palma estendida, fez pequenos movimentos batendo a direita rapidamente, próximo dos dedos, próximo do punho até ouvir no silêncio de Pantaco, concordância.

Dividiram a pequena fortuna e nunca mais foram vistos.   
 
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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

CURITIBA - MQ

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domingo, 13 de outubro de 2013

BERRANTE - MQ


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sábado, 12 de outubro de 2013

Danduca - MQ

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Os dois mastros da gambarra já apareciam ao longe, no lusco-fusco do dia. As carniceiras preparavam seus amanhos, sabiam dias longos pela chegada dos navios. Danduca, a mando de ganho, primeira a chegar, ficava no barranco esperando tarefa com os olhos compridos postos no horizonte, sempre assim.

Dela diziam fazer mandê escondida, por isso andava sempre com os olhos baixos, postos no chão; era arredia nas conversas, mas sabia ganhar na rua mais que todas. Retalhava uma dianteira com talhos rápidos, garantindo o serviço, esperava dia após dia e a cada um a destreza lhe garantia o lugar no açougue e a inveja das outras.     

Na verdade, esperava o remeiro Pycuryauá buscá-la. Viria cedo, antes do sol tingir a barra do Rio Pará. Tinha fé na santa, não nos rituais que lhe atribuíam fazer escondida; rezava todos os dias para que ele viesse logo e para que a santa perdoasse sua fuga.

 O combinado era Pycuryauá voltar à aldeia Urubu, derrubar a itaúba e lavrar a canoa para buscá-la; viria sem ser visto, escondido na noite, margeando até o barranco; dali remariam subindo pelo Acará, até encontrar as terras do Abaribó, sonho de todo escravo e de muitos servos.

Nos primeiros dias de espera, Danduca rezava quanto podia, assustada com a decisão tomada; depois mais ainda pela demora dos dias todos. Ouvia, na rua e no adro da igreja, as conversas sobre fugidos capturados. Ouvia sobre o temido João Cafute, descendente do cego Bocovó, famoso na memória dos mais velhos que usavam seu nome para amedrontar, principalmente os escravos novos.

Contavam dele histórias de muita valentia e ferocidade. Senhor de teres, escravos e haveres; sobreviveu ferido, trancado como comida, depois de uma emboscada; conseguiu fugir e acabou vagando e envelhecendo pelas ruas arruinado e louco,  dizendo-se o único a escapar vivo dos abaribós.

Danduca tremia de medo só de pensar na captura, pondo alcance, mandando aquele homem cuja alcunha, ascendência e fama atemorizava todos. Imaginava do que era capaz o neto do cego Bocovó;  via-se arrepiada, comutando o que destemia.

 Pycuryauá demorando mais que o tempo marcado... pensava desistir, conformar, mas queria mais ser livre. Rezava e esperava no barranco todos os dias antes do claro. Talhava a carne com a mesma rapidez que desejava, quando em fuga, impor aos remos e esperava pela outra manhã.   

Acompanharam, quando saíram do Açougue Grande, as pessoas se juntando nas ruas, formando uma multidão para ver o desembarque dos presos de Muaná, passando nas ruas, o escárnio da população, os reinóis  incentivando com imitações obscenas das janelas e portas do comércio, paramentadas como para uma procissão, as toalhas ornando chicotes, palmatórias e grilhões, numa atitude de desprezo com os mestiços e com os que queriam se juntar ao império brasileiro independente.

Danduca, desinteressada, mal passou os olhos pelos presos, nem se deu conta do olhar penetrante como lâmina afiada que João Cafute lhe dava enquanto vinha se aproximando por entre as pessoas que se afastavam, dando caminho. Ao vê-lo em sua direção, as pernas tremeram, a boca secou e a vista embaralhou. Acordou sendo abanada por ele embaixo duma sombra. Sobressaltada, se desvencilhou, correu como nunca. Foi como se visse o diabo em pessoa.

A vida passou a ser um tormento; esperar Pycuryauá todos os dias e nos mesmos fugir do diabo que a perseguia, e ele chegava cada vez mais perto, só não desrespeitava na rua por ser ela escrava de ganho de padre importante e influente. Rezava agora também para não vê-lo nunca mais no seu caminho, que fosse cuidar dos vezeiros de algum senhor.

 Mal a noite acinzentou o dia, ela já estava na sua vigília. A aragem trazia um frio no perfume da aurora que fazia o corpo de Danduca arrepiar. Olhava o horizonte, desesperançada quando ouviu um barulho farfalhento de remo batendo capim. Procurou seu rumo com o coração em disparada, sabia ser ele encostando a canoa nova no lugar combinado. Desceu o barranco apressada e deu de cara com João Cafute que a agarrou e dominou ali mesmo.

Seu corpo não apareceu, dada como fugida, nunca mais foi vista, seu dono nenhum anúncio pôs e nem contratou a captura. 

João Cafute passou a vida toda escondendo com os cabelos, a falta da orelha esquerda, enterrada dentro do corpo de Danduca.

 
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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

RUY GODINHO - RODA DE CHORO

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RODA DE CHORO – SÁBADO – DIA 12.10.13

ESPECIAL CHORO DAS 3

O RODA DE CHORO deste sábado será especial. Vai dedicar-se integralmente ao talento, ao virtuosismo e à graciosidade do CHORO DAS 3, originário de Porto Feliz, interior de São Paulo, formado pelas irmãs Corina (flauta, flautim), Lia (violão de sete cordas), Elisa (bandolim, clarinete) e ainda pelo pai delas, Eduardo Ferreira (percussão).
Na parte musical, composições dos CDs Escorregando e Boas Novas, lançados em 2012 e 2013, respectivamente.


Produção e apresentação: Ruy Godinho

Transmitido pela Rádio Câmara FM 96,9 Mhz - Sábado 12h [Brasília – DF] (www.radio.camara.gov.br)

 
Retransmitido por 148 rádios parceiras
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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

ENTERRO - MQ

 
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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

GESTOS DE CADA LUGAR - MQ

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Leia a obra completa aqui:
 
 
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terça-feira, 8 de outubro de 2013

CANÇÃO DOS QUARENTA ANOS - RUY BARATA

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Poema, suspende a taça
pelos dias que vivi.
Espelho, diz-me em que jaca
mais fiel me refleti.
Quarenta anos correram
e neles também corri.
 
Quarenta anos, quarenta!
(Quantos mais inda virão?)
Morrerei hoje de infarto
ou amanhã de solidão?
Serei pasto da malária?
Serei presa do avião?
 
A morte engendra esperança
A morte sabe fingir.
A morte apaga a lembrança
da morte que vai ferir.
E em cada instante que passa
a morte pode surgir.
 
Quem pode medir um homem?
Quem pode um homem julgar?
Um homem é terra de sonhos,
sonho é mundo a decifrar :
naveguei ontem no vento,
hoje cavalgo no mar.
 
Hoje sou. Ontem, não era.
Amanhã de quem serei?
Um homem é sempre segredos
(Por qual deles purgarei?)
Dos meus netos, qual o neto,
em que me repetirei?
 
Que virtudes foram minhas?
Que pecados confessar?
Que territórios de enganos
a meus filhos vou legar?
A quem passarei meu canto
quando meu canto passar!
 
Ah! como a vida é ligeira!
Ah! como o tempo deflui!
Este espelho não mais fala
da criança que já fui,
das minhas rugas ruindo
apenas um nome rui.
 
Quede rede balançando?
Quede peixinhos do mar?
Quede figo da figueira
pru passarinho bicar?
E o anel que tu me deste
em que dedo foi parar?
 
Dezembro chama janeiro,
(fevereiro vai chamar?)
Monte-Cristo se me visse
não iria acreditar.
Como está velho, diria
a donzela Dagmar.
 
Um homem cresce espalhando
— o reino em que foi feliz. —
Onde Athos? Onde Porthos?
Onde o tímido Aramis?
Um homem cresce querendo
e cresce quando não quis.
 
Crescer é rima de vida
mas também é de morrer.
Crescer é terna ferida
que só dói no entardecer.
Em cada raiz da morte
há sempre um verbo crescer.
 
E cresço: macho e poeta.
(Subo em linha, volto em cor)
cresço violentamente,
cresço em rajadas de amor,
cresço nos filhos crescendo,
cresço depois que me for.
 
Cresço em tempo e eternidade,
cresço em luta, cresço em dor,
não fiz meu verso castrado
nem me rendo ao opressor,
cresço no povo crescendo,
cresço depois que me for.
 
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